Por Rodrigo Zavala, da Rede Gife
Se uma boa educação só é possível por meio de bons educadores, o
mais recente estudo realizado pela Fundação Victor Civita (FVC),
encomendado à Fundação Carlos Chagas (FCC), traz preocupação a quem se
interessa pelo assunto. Ao pesquisar sobre a atratividade de jovens à
carreira de docente, o levantamento mostra que apenas 2% dos estudantes
do terceiro ano do ensino médio pensam em atuar em sala de aula.
Com
1.501 alunos participantes, o estudo foi aplicado em 18 escolas
públicas e privadas de oito municípios (em cinco regiões do país)
selecionadas por seu tamanho, abrangência regional, densidade de alunos e
oportunidades de emprego. Segundo estes estudantes, as más condições de
trabalho, a baixa remuneração e o pouco reconhecimento social são os
motivos para se manterem longe da sala dos professores.
“Esse é
um tema central e de médio prazo para a melhoria da qualidade de
educação no país. O principal é mudar a formação para criar essa
atratividade”, afirma o secretário estadual de Educação de São Paulo,
Paulo Renato Souza.
Curiosamente, há uma semana (26/02), o
ex-ministro da Educação culpou a má formação dos professores pelo mau
desempenho registrado nas provas de matemática aplicadas a estudantes do
ensino médio pelo Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do
Estado de São Paulo). Segundo os dados, 58,3% dos estudantes que
concluem essa etapa têm conhecimento insuficiente da disciplina.
Dados
complementares
O resultado da pesquisa da Fundação Victor Civita está em concordância com outros levantamentos complementares. Basta ver o Censo da Educação Superior de 2009, em que se demonstra que cursos ligados à formação de professores têm uma relação candidato/vaga, no mínimo, desfavorável.
O resultado da pesquisa da Fundação Victor Civita está em concordância com outros levantamentos complementares. Basta ver o Censo da Educação Superior de 2009, em que se demonstra que cursos ligados à formação de professores têm uma relação candidato/vaga, no mínimo, desfavorável.
Por exemplo, a
Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular, o maior vestibular do
país) oferece 109 opções de cursos e Pedagogia, em São Paulo, ocupa a
90ª posição. Em Ribeirão Preto cai para 92ª. Licenciaturas e disciplinas
da Educação Básica são ainda menos procuradas pelos jovens.
“A
análise dos resultados mostra que existe uma contradição entre desejo e
possibilidade. Os alunos entendem a relevância do profissional e a
nobreza de seu trabalho. Porém, acreditam que a o educador é
desvalorizado e desrespeitado e sua profissão é frustrante e repleta de
dificuldades”, argumenta a responsável pela pesquisa, Bernardete Gatti,
pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.
O paradoxo trazido pela
especialista traz um aspecto positivo nas entrelinhas. Apesar de não se
sentirem compelidos para o trabalho em sala de aula, reconhecem o
professor como fundamental na formação. “De modo geral, todos os
estudantes mostraram muita consciência dos problemas educacionais, não
apenas deles, mas do país”, lembra Bernardete.
Déficit
O resultado prático do pouco estímulo à carreira do professor é transparente:
O resultado prático do pouco estímulo à carreira do professor é transparente:
a demanda por profissionais é sensivelmente maior do
que a oferta. Segundo estimativas do Inep, do Ministério da Educação, o
déficit de professores com formação adequada à área que lecionam chega a
710 mil no ensino médio e nas séries finais do ensino fundamental.
Como
esses professores são substituídos precária e temporariamente por
pessoas não qualificadas para o cargo, existe no país o que se chama de
“escassez oculta”. Afinal, no papel, a aula existe; uma espécie de
auto-engano, no qual sofre o educando.
Em áreas como a de
Física, o porcentual de docentes graduados no campo de saber específico é
de apenas 25,2%. Na de Química, o total é de 38,2%.
Esse
panorama se mostra ainda mais dramático se considerado que 41% do corpo
docente brasileiro têm mais de 41 anos e está próximo da aposentadoria.
Os últimos Censos Escolares da Educação Básica mostraram que o número de
aposentadorias tende a superar o número de formandos nos próximos anos.
Resultados
práticos
Com esses dados, não é difícil entender
porque, nem mesmo a escola tem atraído seus alunos. Segundo o Censo
Escolar de 2006, do Ministério da Educação (MEC), do total da população
entre 15 e 17 anos (cerca de 10 milhões), 3,6 milhões matricularam-se no
ensino médio - 1 milhão sequer havia concluído do ensino fundamental.
Com
a evasão, apenas 1,8 milhão se formou. Quando analisado o comportamento
dos jovens de 18 a 24 anos, os dados são ainda mais desastrosos: 68%
não freqüentam a escola. Destes, 34% sequer trabalham.
"Hoje
faltam profissionais para uma série de postos de trabalho. Essa
tendência tende a se agravar futuramente, se não houver ações para
enfrentar o problema, pois a qualificação de um profissional prescinde
no mínimo do ensino médio completo. Para um país como o Brasil, que
pretende crescer, esse é um sério entrave", analisa a diretora-executiva
do Instituto Unibanco, Wanda Engel,
Patrocinado pela Abril
Educação, o Instituto Unibanco e o Itaú BBA, o estudo Atratividade da
Carreira Docente no Brasil pode ser acessado livremente por
interessados.
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