Paulo Roberto é Pedagogo, Sindicalista e Petista.

Minha foto
Dever cumprido é fruto da ousadia de um velho militante das lutas democráticas e sociais do nosso Brasil, que entende que sem uma interação rápida, ágil, eficiente e livre com o que rola pelo mundo, a democracia é pífia.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Texto de jurista contra mentiras na web faz sucesso nas redes sociais


Valter Uzzo (foto) traça cenário histórico do domínio conservador na política brasileira para um amigo de infância e ganha forte audiência na internet.
Via São Paulo 247

     Um dos mais importantes especialistas do País na área trabalhista, o advogado Valter Uzzo criou um fato político ao enviar para amigos um e-mail remetido para um de seus conterrâneos da cidade de Pompeia, no interior de São Paulo, listando uma série de argumentos contrários à proliferação de spams jocosos sobre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff. Ex-presidente do Sindicato dos Advogados de São Paulo, Uzzo, no texto, descreve o cenário histórico sobre a presença e a influência das forças conservadoras na política brasileira.
     O e-mail de Uzzo está sendo velozmente disseminado pela internet, ganhando status de nobre peça política contra a discriminação ideológica. Abaixo, o conteúdo:

     Caros
     Um amigo meu de infância passou a me mandar um volume enorme de e-mails com piadas, comentários e afirmações sempre depreciativas em relação ao Lula, Dilma, PT etc. A situação foi em um crescendo tal, que atingiu as raias da provocação e do insulto, até que, outro dia, resolvi responder. E mandei este pequeno texto, que é, em verdade, o que penso de pessoas como ele que, a pretexto de criticar, escondem hipocritamente suas ideias e concepções.

Abcs.

Valter Uzzo

     Sent: Tuesday, February 05, 2013 3:42 PM

     Caro Lara:
  Tenho, quase diariamente, recebido seus e-mails, que trazem piadas, “fotos interessantes” e propaganda daquilo que, politicamente, você acredita. Quero crer que estou me dirigido à pessoa certa, ou seja, ao Lara que conheci em Pompeia, na infância e adolescência. Se assim é, tenho algumas gratas recordações, de nossa convivência que, ao tempo, pela idade e sem as agruras que viríamos a experimentar durante a vida, era muito boa. Recordo-me mesmo que uma de suas habilidades, invejada por todos nós da mesma classe ginasial, era a incrível capacidade que tinha de “colar”, já que você se abastecia de um grande estoque das “sanfoninhas” (era o tipo de “cola” da época), que escondia perfeitamente em sua mão direita e que lhe permitia – grande perfeição! – colar sem interromper a escrita e – perfeição maior! – até mesmo diante do olhar atento do professor. Ao que me recordo, nunca, nenhum dos professores, na fiscalização que faziam, conseguiu algum êxito diante de você. Nesse particular, você era imbatível.
     Mas, deixando-se de lado tais reminiscências, eu estou me dirigindo a você para tratar de assunto que, diante de sua volumosa correspondência eletrônica, parece lhe interessar: trata-se de questões que envolvem a visão que temos da forma como vem sendo dirigido este País, melhor dizendo, a questão política. Para se ter uma conversa franca, devo dizer que temos uma visão de mundo muito diferente. Acho mesmo, oposta. Em minha profissão (sou advogado), acabei aprendendo a conviver na divergência, já que, diariamente, senta do lado de lá da mesa de audiência, ou dos autos do processo, um colega de mesmo grau de escolaridade que defende justamente o contrário. Adversário. Mas, terminada a audiência, retomamos o relacionamento, ou seja, é um aprendizado constante e permanente a nos ensinar que devemos respeitar os que pensam de forma diversa.
     Transposta tal relação para a política, também aprendi a respeitar aqueles que tem uma visão de mundo diferente da minha, embora com eles não concorde. Entre tais “adversários” de pensamento existem dois tipos: os que assim agem por convicção e os que agem por interesse. Creio que você se enquadra entre os primeiros, ou seja, você tem ideias, a meu ver, que eu classifico como “conservadoras”, mas que são catalogadas no jargão político comum como “reacionárias” ou por alguns “direitistas” ou, se formos levar ao extremo a sociologia política, “fascistas”. Para mim, no entanto, você é um “conservador”, por convicção. E é aí que eu quero conversar com você.
     Existe no Brasil uma forte corrente de pensamento conservador. Sempre existiu, aliás, durante o Império e durante a República, todos os presidentes e governos, até 2003, sempre tiveram um perfil conservador, uns mais outros menos. Todos. Getulio Vargas (1º governo, ditadura) liderou uma “revolução” – que não era revolução no sentido sociológico do termo – contra práticas condenáveis da República Velha, só isso. Pertencia à elite agrária, era fazendeiro e fez um governo ambíguo, criando uma legislação trabalhista (que estava sendo criada, ao tempo, por quase todos os países de mesmo grau de desenvolvimento que o Brasil) e criou dois partidos políticos: o PTB, para lhe servir; e o PSD, conservadoríssimo, para ajudá-lo a governar. No mais, encarcerou a oposição e restringiu as liberdades públicas. Em 1945 foi substituído pelo Dutra (outro conservador), que dissipou todas as reservas cambiais que havíamos acumulado com a substituição das importações, durante a guerra. Getulio volta em 1950 e aí, após um início de governo meio indefinido, começa a aproximar-se de ideias progressistas, mas não conseguiu implementá-las, já que, ameaçado de deposição, suicidou-se. Juscelino foi um inovador em realizações, mas seu governo, embora aparentemente liberal nos costumes, sempre foi um produto das classes dominantes e um fiel seguidor da política norte-americana. Jânio se foi muito rápido e Jango também nada tinha de progressista: era filho de uma família de riquíssimos fazendeiros, era despreparado para a função e sua queda dá bem a medida de seus compromissos de classe: preferiu viver rico no exílio, do que participar ou liderar uma revolução popular com a qual não se identificava. Seguiram-se os governos militares, Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique. Se examinarmos todas as medidas tomadas por tais governos (algumas muito boas, até) veremos que nenhuma delas teve a preocupação ou conseguiu alterar o sistema de distribuição de renda no País, – um dos mais injustos do mundo. A dívida externa sempre em patamares impagáveis, o salário mínimo mediando entre US$80,00 e US$120,00, lenta queda da mortalidade infantil, poucos avanços na alfabetização, grande transferência de rendas para o exterior, sistema de saúde pública catastrófico, destruição da escola pública, gigantesca falta de moradias e favelização, polícia corrupta, Justiça que não funciona, previdência privada mais cara do mundo, seguros mais caros do mundo, alta tributação e assim foi. Só discursos, só demagogia, e muita roubalheira.
     Aí vieram a eleição em 2003, reeleição do Lula e eleição da Dilma. Muitos erros, houve e há corrupção, muitas coisas não deram certo, os quadros do PT, em grande parte, eram despreparados para administração, enfim, as coisas não saíram como o PT pregava. No entanto, o salário mínimo triplicou (em dólares), a renda familiar cresceu, a dívida externa foi paga, o consumo aumentou muito, o emprego cresceu (e o desemprego despencou) e o Brasil conseguiu crescer, ao meio de uma grande crise internacional.
     Caro Lara, esses são fatos. Fato é fato, não é discurso, nem proselitismo político, nem palavrório. FATOS. O País está em regime de pleno emprego (é a 1ª vez em nossa história que isso acontece) e, no ano de 2011, em um universo de 200 países, fomos o 4º país do mundo em receber investimentos externos, só atrás dos Estados Unidos, China e Hong Kong (notícia do Times, reproduzida noEstadão e Folha na semana passada, com pouco destaque). A arenga de que o governo, em 2003, pegou uma condição internacional favorável é conversa para boi dormir: muitos outros países não progrediram, muitos entraram em crise, o sistema financeiro internacional em 2008 quase ruiu, enfim, o Brasil navegou muito bem por sua conta e seus méritos. Pensar de modo diverso é revolver à mentalidade colonialista.
Mas estou eu a pretender que você se torne um apoiador do Lula e da Dilma? É claro que não, até porque na nossa idade ninguém muda mais. É que eu acho que essa sua “cruzada” contra, poderia ser muito mais consequente e séria. Já que na clássica definição “partido político é a opinião pública organizada”, porque vocês, conservadores, não fundam um partido que expresse tal ideologia? A grande farsa que existe é que os conservadores ou os direitistas ou os neoliberais não assumem o próprio rosto. O PSDB (neoliberal) não se diz neoliberal, diz que vai mudar, que é de centro-esquerda, que é progressista e outras baboseiras mais. Por que não se diz neoliberal e faz um programa neoliberal? E vocês, conservadores, por que não se assumem e fazem um programa com o conteúdo daquilo que vocês acreditam: contra as cotas, contra os avanços na educação, contra o prouni, contra uma maior distribuição de renda, contra o Minha Casa Minha Vida, pela redução dos direitos trabalhistas, dos impostos, por uma política externa mais invasiva etc. etc. tal qual o Partido Republicano (conservador) dos Estados Unidos? Se você fizer as contas, aqui como lá, o eleitorado se divide, o que, aliás, ocorre em todos países civilizados (França, Inglaterra, Austrália, Itália, Espanha, Alemanha, Áustria etc. etc. etc.). Ou seja, no mundo todo, o eleitorado se divide em conservadores e progressistas. Mas aqui não, em razão da hipocrisia política da direita, a luta não é limpa. Estimule a criação de um verdadeiro partido conservador, que defenda as teses conservadoras e o modo de governar conservador e aí, sim, teríamos um debate limpo, direto, sem enganações, sem subterfúgios. A meu ver, essa situação da direita esconder suas verdadeiras propostas, de vestir um manto progressista quando não o é, é a pior forma de trapacear uma nação, posto que esconde seus verdadeiros desígnios. Em suma, já é tempo de sair do armário e vir corajosamente para o debate de ideias.
      O outro ponto que gostaria de conversar com você é sobre a forma negativa e pejorativa de sua “crítica” política. As piadas, imagens, dizeres etc., que se referem aos que não pensam como você, revelam um rancor que tem de tudo: preconceito, desinformação, insultos etc. Se você acha que este tipo de crítica desperta alguma simpatia para as suas ideias, ou fazem mal à figura dos criticados, então está na hora de você fazer algumas reflexões sobre o que muda as pessoas. Uma pessoa decente muda de opinião quando você demonstra que ela está errada. Só não mudará se tiver “interesses” em se manter no erro ou, então, se por alguma razão (preconceito, ignorância, intolerância, irracionalidade etc.) não entender o seu erro e o significado da mudança. Fora disso, a “propaganda” pejorativa contrária é um tiro na culatra. E isso é tanto no aspecto individual como coletivo. O Lula cresceu eleitoralmente depois que mudou sua imagem para o “Lula, paz e amor”. Antes, o eleitorado preferia o FHC, com sua voz e modos blandiciosos. Serra com sua linguagem belicosa só perdeu votos. Obama derrotou duas vezes os seus adversários com um discurso suave, sofrendo agressões de todo os lados. O Berlusconi e Sarkozy, na Itália e França, perderam as eleições, em razão de suas práticas autoritárias e arrogantes. Enfim, à medida que a sociedade evolui, essa linguagem truculenta, ofensiva, enganosa, que intui uma falsa moralidade e prega medidas radicais extremadas (para os outros, nunca para si) vai caindo em desuso, não engana mais ninguém. Pode ter servido em outra época, chegou a levar os hitlers e mussolinis ao poder, mas, hoje em dia, ninguém mais cai neste canto de sereia. As pessoas querem é ser convencidas, sem imposições.

     Bem, fico por aqui. Se você quiser prosseguir mandando-me os e-mails, gostaria que não mais me enviasse os relativos à política, a não ser quando nesta terra tiver um partido conservador ...

terça-feira, 2 de abril de 2013

Nova Pesquisa, Velhas Frustrações


Matéria publicada em: CartaCapital No.742
Marcos Coimbra

Nada dá certo para as oposições faz tempo. Elas tentam, se esforçam, mobilizam seus vastos recursos e as coisas não acontecem. Seu pior pesadelo parece prestes a se materializar. A tomar pelo que dizem os eleitores, quando perguntados sobre como pretendem votar na próxima eleição, Dilma Rousseff se reelegerá sem grandes problemas. Prognosticar sua vitória não é difícil para quem conhece um mínimo da sociedade brasileira. Ela tem tudo para vencer:
a) a “inércia reeleitoral”, que beneficia até governantes mal avaliados (quem não se lembra dos muitos governadores e prefeitos que, apesar de enfrentarem sérias dificuldades, terminaram vencendo?).
b) faz um governo bem avaliado, aprovado por quatro em cada cinco brasileiros (quem preferiria mudar, estando satisfeito com o que tem? Se há uma coisa em que o eleitor acredita é que mais vale um pássaro na mão do que dois voando).
c) tem uma imagem pessoal muito positiva, é querida pela ampla maioria dos eleitores, que gostam de seu jeito de ser e se portar como presidenta (algum de seus possíveis adversários chega sequer perto do que ela alcança no julgamento da atuação pessoal?)
d) é conhecida e aprovada pela quase totaltidade do eleitorado, não precisa perder tempo para se apresentar ao País (qual de seus oponentes em potencial pode dizer o mesmo, uma vez que todos existem em nichos regionais ou ideológicos?).
Confirmado o favoritismo, Dilma será a quarta chefe de governo eleita pelo PT em sequência. Ao cabo de seu segundo mandato, chegaremos a 16 anos de hegemonia petista na política brasileira.
O que será da atual geração de lideranças oposicionistas em 2018? Quantas estarão ainda em condições de atrair a atenção dos eleitores? Quantos de seus jovens terão envelhecido? Quantos dos atuais “formadores de opinião”, na mídia conservadora, estarão ainda na ativa? (a maioria é tão velha que, entre aposentados e falecidos, é possível que restem poucos).
A gravidade do quadro que as oposições enfrentam voltou a ser confirmado na semana passada, quando uma nova pesquisa do Datafolha a respeito da sucessão presidencial foi divulgada. Ela não trouxe novidade em relação ao que se sabia desde o início de 2012. Exatamente por isso, foi uma ducha de água fria no ânimo dos partidos da oposição e nos segmentos “antilulopetistas” da opinião pública.
Apesar dos esforços diários e da militância radicalizada na mídia de direita, Dilma fica cada vez melhor na corrida eleitoral. Enquanto isso, seus adversários patinam ou retrocedem. Entre dezembro de 2012 e março deste ano, ela foi de 54% a 58%, na vizinhança dos 60%, patamar onde outras pesquisas já a haviam colocado. Marina Silva (sem partido) e Aécio Neves (PSDB-MG) perderam 2% cada um, ela de 18% para 16% e ele de 12% para 10%. Mais frustrante para a mídia foi, no entanto, o modesto crescimento do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Depois de “bombado” incessantemente na mídia, foi de escassos 4% a escassos 6%.
Uma simples aritmética mostra que os três não mudaram seu tamanho total: Somavam 34%, em dezembro, e foram a 32%, em março. No máximo, o que teria ocorrido seria uma pequena reacomodação no terço do eleitorado que não pretende votar na presidenta: Campos tirou uma lasquinha de Marina e de Aécio.
Em votos válidos (a conta relevante para especular sobre vitórias em primeiro turno), Dilma teria, hoje, perto de 64%. Muito próximo de alcançar, sozinha, o dobro da soma dos demais.
Significa que “já ganhou”, que vencerá no primeiro turno? Claro que não, e seria um equívoco se sua assessoria interpretasse assim a pesquisa. Mas que os resultados do Datafolha foram uma decepção para as oposições, disso não há dúvida.
O que lhes resta fazer?
O circo armado em torno do julgamento do “mensalão” foi inútil do ponto de vista eleitoral. O PT não perdeu espaço em 2012 e nada indica que será afetado em 2014.
A tese da incompetência gerencial da presidenta, à qual se dedicaram assim que perceberam o insucesso anterior, não tem adeptos na maioria da opinião pública. Ao contrário, os brasileiros se mostram cada vez mais satisfeitos com o desempenho do governo.
A valorização dos possíveis adversários não comove os eleitores de Dilma. Campos, seu mais dileto produto na atualidade, permanece com números de nanico.
Quando pesquisas como essa são publicadas, ficam tristes e devem pensar no “povinho” que Deus pôs no Brasil. O problema é que não podem trocá-lo. Ou será que vão procurar prescindir dele na hora de decidir quem vai mandar?