Paulo Roberto
Mãe, essa mulher
(*) Delúbio Soares
“A Mãe é a mais bela obra de Deus”
Almeida Garret
Existe uma única entidade perfeita por sobre a face da terra. Ela é inatacável, absoluta, irreparável e à prova de todas as provações.
Ela dispensa tratados internacionais e maiores explicações. Suas razões ultrapassam o previsível, o justificável, o usual. Em verdade, ela se impõe pela força intrínseca do amor e da fé que remove as montanhas e enfrenta o mundo.
Não há força que supere a sua força. Não existe medo que a intimide, nem percalço algum que a desanime.
No gênero humano a perfeição se materializou na figura da mãe. Seu ventre abriga por parcos meses o homem de amanhã, mas suas mãos conduzem vida afora aquele que jamais deixará de ser criança frente aos olhos de seu coração.
Retorno num lapso de tempo, no mais profundo da memória ainda vida, e me reencontro no chão de Buriti Alegre, com o cheiro da terra, com o barulho do vento balançando as árvores, meu pai tangendo o gado, as longas caminhadas pés descalços rumo à escola na cidadezinha distante. Tantas boas lembranças de uma infância pobre, mas feliz. Mas nenhuma delas superando o olhar significativo, perspicaz e doce de minha mãe. A mesma mirada firme, resoluta, suave e solidária, que em mais de meio século acompanha minha vida, dá alento, é refúgio e dá paz.
Minha mãe sempre soube a hora certa de deixar que cada um de seus filhos seguisse seu caminho pela vida. Mulher de pouquíssimas letras, Dona Jamira é mais sábia que os quatro filhos que formou. Chego a pensar que os canudos que recebemos nas universidades são pouco ou nada se comparados à sabedoria daquela suave senhorinha do interior goiano... Tendo mal saído das terras amadas de Buriti Alegre, é cidadã do mundo, versada em vida e doutora nos mistérios da existência humana.
A figura da mãe é o espelho de nossas almas. E essas mulheres que batalham e formam famílias, que geram filhos e os educam, que trabalham e lutam, que constroem caminhos e enfrentam a dureza dos desafios da vida, são exemplos a serem exaltados, homenageados e seguidos.
Aproveitemos o comercialíssimo Dia das Mães no que ele tem de bom: a lembrança da instituição perfeita, da entidade do bem, da mais sublime das criaturas.
E vale destacar que o Brasil de hoje trata muito melhor a mulher, dá à cidadã o tratamento respeitoso que lhe é devido, resgata as potencialidades de nossa imensa força de trabalho feminina e as igualdades de oportunidade no mercado de trabalho. A mulher deixou a posição subalterna que a sociedade atrasada e reacionária insistia em destinar-lhe e ela, com a coragem que lhe reconhecemos, jamais aceitou. As mulheres brasileiras continuam criando seus filhos, mas também comandam grandes empresas. Não perderam a doçura, mas assumem responsabilidades e sabem tomar decisões. Estão entre as mais belas do mundo, mas são guerreiras destemidas quando chamadas à luta.
Milhões de mulheres compõe a força produtiva da economia nacional, mostrando ao mundo sua capacidade e a diferença que fazem na construção de um país que tem colecionado indicadores sociais e econômicos que apontam sua rápida caminhada rumo ao primeiro mundo. No governo Lula a situação da mulher na sociedade brasileira apresentou avanços impressionantes, com maior participação política, social e econômica, inclusive com a ocupação de postos de relevância na administração pública, mostrando o estágio avançado a que está se chegando o protagonismo da cidadania feminina na gestão dos destinos de nosso país.
Mas, por outro lado, persistem graves problemas a serem superados na sociedade brasileira em relação à mulher. E, por incrível que pareça, apesar de todos os avanços que já presenciamos, a discriminação ainda existe e pode ser notada, e ela é fruto da desinformação tanto quanto do preconceito. E se a política de cotas raciais foi um sucesso garantindo aos nossos irmãos afro-descendentes e indígenas o acesso às universidades públicas, proponho que se estabeleça a discussão de cotas mínimas para a participação da cidadania feminina em várias modalidades, como, por exemplo, o serviço público. As mulheres têm mostrado seu valor e conquistado seus espaços na sociedade brasileira por méritos próprios, mas nem por isso devemos deixar de reconhecer a existência lamentável de forte resquício de machismo e tentar eliminá-lo criando mecanismos que ampliem os horizontes de tais conquistas.
Falar do valor de nossas mulheres é prestar homenagem sincera às mães. Eles embalam nossos sonhos, curam nossas feridas, olham por nós e se doam por completo, desdobrando fibra por fibra, com a doçura e a fortaleza que só elas têm. Faz poucos meses os brasileiros se comoveram com história tipicamente brasileira, quando a figura suave e forte de Dona Lindú, mãe-coragem, emergiu das telas dos cinemas com a força de sua sofrida e belíssima história, criando sozinha os filhos, dando-lhes amor e os encaminhando na vida. Um deles, Luiz Inácio, engraxate, vendedor de laranjas, torneiro-mecâ nico, líder sindical e presidente do Brasil acaba de ser apontado como um dos principais e mais influentes líderes do mundo pela revista Time.
Homenageio as Mães em seu dia nas figuras das mulheres pobres e desconhecidas que vi no nordeste de antes do governo Lula, percorrendo dezenas de quilômetros para buscar água e alimento para os filhos seus. Homenageio as Mães relembrando as mulheres sofridas da Plaza de Mayo, em Buenos Aires, que numa marcha marcada pelo silêncio, as lágrimas e a coragem, não permitiram que a poeira do tempo cobrisse a memória dos filhos que a ditadura lhes arrancou. São hoje as Mães da sólida democracia argentina. Homenageio as Mães voltando meio século, no mais profundo e belo da memória que jamais se apagará, para recordar o brilho dos olhos e o sorriso imorredouro de Dona Jamira, cuja presença discreta e forte é uma benção de Deus em minha vida.
(*) Delúbio Soares é professor
Prezado Paulo,
ResponderExcluirA ser verdade a noticia que corre ultimamente em que se ventila ter a UNIG voltado para as mãos dos antigos donos, como fica a questão da intervenção?