Reproduso aqui, matéria do brilhante jornalista mineiro Laerte Braga, o mesmo que deu o furo de reportagem sobre a reunião que FHC fez em Foz do Iguaçu com 150 investidores internacionais, para arrecadar recursos para campanha de Serra e acertar a venda do que resta das estatais brasileiras.
MUDANÇA DE COMANDO NA GLOBO
Laerte
Braga
Os estragos
causados pelo episódio da bolinha de papel atirada contra o candidato José FHC
Serra são de grande monta na REDE GLOBO. A reação indignada de alguns
jornalistas, em São Paulo principalmente, a preocupação com o bombardeio e
desafios de outras redes em torno do noticiário do JORNAL NACIONAL sobre o
episódio, tudo isso e muitos fatos outros, estão levando a direção geral do
grupo a avaliar se promovem Ali Kamel para cima e afastam o todo poderoso do
departamento de jornalismo, ou se simplesmente entram num acordo e Kamel vai
cantar noutra freguesia.
A bolinha
de papel não se desmanchou na água e acabou sendo a gota que faz transbordar.
A
decisão será tomada após as eleições. Carlos Augusto Montenegro, diretor
presidente do IBOPE, aumentou as preocupações do comando do grupo ao levar a
informação que a bolinha de papel terá custado alguns pontos preciosos a José
FHC Serra nas intenções de votos e Dilma teria hoje algo em torno de 16% de
vantagem sobre o tucano.
O temor da
GLOBO não está no fato do JORNAL NACIONAL ter apresentado um parecer forjado em
torno do incidente envolvendo José FHC Serra. A mentira é intrínseca ao grupo.
Mas no risco de crescimento das redes concorrentes. A RECORDE a mais próxima
nos números de audiência e no que isso pode representar a curto, médio ou longo
prazo para o “esquema”
O
império de Roberto Marinho, pela primeira vez, parece estar sentindo o golpe,
se vendo nas cordas e apostando fichas numa improvável eleição de José FHC
Serra, mesmo assim, a um preço alto demais.
Para
alguns setores do comando do grupo a empresa não é como VEJA. Tem preocupações
com o parecer ser e não pode entrar numa zona de turbulência sem perspectiva de
uma saída tranqüila. Ou pelo menos tenta fazer crer que é diferenciada.
Banditismo de estilo mais nobre. Sangue azul.
A
sorte de Ali Kamel está ligada à eleição de José FHC Serra e a própria GLOBO
sabe que, a essa altura do campeonato, essa chance é mínima. Nem coelho da
cartola, nem uma legião de coelhos.
E há
quem entenda que o diretor de jornalismo comprometeu a credibilidade da rede e
é preciso recuperá-la o mais rápido possível. O nível a que a grande mídia,
GLOBO à frente, levou a campanha, o mais baixo da história das campanhas
presidenciais no Brasil, pode afetar para além do JORNAL NACIONAL, do
departamento de jornalismo, todo grupo.
Um
episódio mais ou menos semelhante aconteceu em 1982 quando Armando Nogueira
deixou o departamento de jornalismo da rede por conta do escândalo da
PROCONSULT. Àquela época o fato revestiu-se de tal gravidade que algo
inimaginável aconteceu. Brizola foi aos estúdios da GLOBO numa tentativa da
empresa de atenuar os prejuízos causados com outra tentativa, a de fraude na
totalização dos votos para o governo do estado do Rio.
Foi
o primeiro momento na história de impunidade da GLOBO que a turma se viu
acuada.
Kamel
não age sozinho e nem monta todo esse sórdido esquema de mentira à revelia dos
donos do império. Faz o que faz com aprovação dos senhores do “negócio”. A
diferença é que os senhores do “negócio” se preservam nos castelos do baronato
Marinho e têm, sempre, um bode expiatório à mão.
Sem
falar nos interesses que acoplam a GLOBO a um todo que ultrapassa o setor de
comunicações. Os braços são longos a toda a atividade econômica no País em se
tratando de interesses escusos. Ou seja, há necessidade de prestar conta aos
que pagam e ditam os caminhos do grupo.
Nesta
campanha eleitoral os interesses bilionários em jogo e a aposta de todas as fichas
na campanha de José FHC Serra parecem ter deixado cegos os moradores do castelo
e do PROJAC, uma espécie de centro de mentiras, boatos e cositas más.
A
turbulência chegou ao auge no laudo falso do perito Ricardo Molina, prontamente
desmentido pelas redes concorrentes e por um fenômeno que a GLOBO ainda não
absorveu inteiramente. A blogsfera. Ou seja, o conjunto de blogs independentes
de grandes e anônimos jornalistas ou não, a derrubar em cima de cada mentira, a
versão global.
Hoje
o número de internautas no País é significativo, a repercussão dos comentários
em blogs, sites, portais, redes de comunicação acaba por criar uma força quase
tão poderosa quanto a GLOBO.
Quase tão
poderosa? É a avaliação de alguns especialistas pelo simples fato que, nesta
eleição a candidata do PT vence por larga margem entre os eleitores de renda
mais baixa (políticas sociais de Lula) e o prejuízo à GLOBO acontece nas
chamadas classes médias, divididas entre os dois candidatos e ponderável
parcela escapando do fascínio do plim plim.
O
poder aquisitivo dos brasileiros aumentou nesses últimos oito anos, há um
orgulho nacional com o papel do Brasil no mundo e o que esse novo perfil
provoca no mundo da comunicação não foi ainda tratado corretamente pela
GLOBO, a mídia privada como um todo, não foi absorvido o que quer dizer que
nessa nova realidade ainda tateiam apesar de todos os esforços para diminuir o
impacto da transformação.
Foi
visível na campanha de Obama, é visível na campanha de Dilma.
Tornou-se
mais difícil mentir, enganar, características do grupo e da mídia privada.
O que não
quer dizer que até domingo, 31 de outubro, dia da votação, todo o grupo não vá
se empenhar na campanha de José FHC Serra e na onda de mentiras e boatos que
possam prejudicar Dilma Roussef.
Nem tem
como. Equivaleria a um pouso de barriga e os riscos de um incêndio são altos
demais numa eventual mudança de posição (fora de propósito), ou correção de
rota para uma área neutra.
A
gênese da GLOBO é a mentira e o DNA preserva suas principais características
até o último suspiro.
O
que assusta os donos do “negócio” para além da derrota eleitoral? Um monte de
fatores.
Surge
uma discussão no Brasil impensável há meses atrás, falo de proporções. Até que
ponto é possível a uma empresa/famílias manter o monopólio das comunicações e
associada a empresas outras (menores), mas fechando o cerco em torno de quem
ainda lê jornal impresso, revistas e que tais?
O que é de
fato liberdade de expressão? A mentira? O engajamento em interesses de grupos
econômicos nacionais e estrangeiros (associados)?
A
tentativa de manipulação de fatos, dados, a sociedade do espetáculo, alienada e
conduzida como gado a um matadouro que representa inércia, passividade, medo?
Como vai
ficar a televisão e como vai ficar o rádio num futuro próximo diante da
internet?
Kamel vai
ser a bola da vez como outros.
É prática
comum nas máfias. Num determinado momento de um determinado “negócio” que deu
errado, a saída é aposentar alguém, garantir-lhe um futuro “risonho” e tentar a
volta por cima.
Todo esse
processo respinga em Wiliam Bonner (“nada que possa prejudicar nossos amigos
americanos”). Sobrevive.
A
decisão, consumada a derrota de José FHC Serra, é recuar, mas não tão devagar,
nem tão depressa. Não pode parecer fuga, muito menos provocação.
Que
seja só um reajuste de comando para tempos novos. Tempos de dividir a
exclusividade das transmissões de jogos de futebol e no bye bye Olimpíadas.
E agora,
recuperar a credibilidade mínima, abalada pela insensata e irresponsável, de
qualquer ângulo que se veja, adesão ao jornalismo marrom que permeia essa
campanha eleitoral. Registre-se que jornalismo marrom é característica da
GLOBO, surgida nos primórdios do golpe de 1964, na preparação da ditadura
militar.
Não sei se
chega a ser um nocaute, mas a GLOBO está nas cordas e um tanto tonta.
Quem sabe
as mesmas náuseas que “abalaram” José FHC Serra após a bolinha de papel?
Vão fazer
uma tomografia e buscar os tratamentos e medicamentos adequados para
sobreviver.
NOTA DO BLOGUEIRO: O que lamentamos nesse nefasto episódio é que a poderosa GLOBO arruma um “cristo” (o nefasto Kamel) e sai bem da história, continuará sendo a mesma. Agora pega um desses companheiros petista de alta plumagem que adora um holofote e uma câmara, arrumam umas concessões para eles e “fica tudo como dantes no quartel do Abrantes”
Se isso vier a acontecer a bloguesfera terá que reagir.
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