27/10/2009 - 01h10
Educação a distância cresce, mas sem a qualidade necessária
Por Talita Mochiute, do Aprendiz
“A educação a distância (EAD) avançou muito no Brasil, mas de
forma desordenada. Estamos muito distantes de trabalhar com a qualidade
necessária e com avaliações adequadas”, analisou o professor aposentado
pela Universidade de São Paulo (USP), José Manuel Moran, no Seminário
“Ensino a distância e Banco de Dados no Ensino Superior”. O evento foi
realizado em São Paulo (SP) na última semana pelo Centro de Estudos de
Cultura Contemporânea (CEDEC).
De acordo com os dados do
Ministério da Educação (MEC), o número de alunos matriculados em cursos
superiores a distância cresceu 106% entre 2007 e 2008. O dado
representou o aumento da participação da EAD no Ensino Superior
brasileiro – antes era de 4,2%; em 2008, passou para 7,5%. No ano
passado, havia 761.099 matrículas nessa modalidade distribuídas entre
109 instituições de ensino públicas e privadas.
“Avançamos, mas
com defeitos. Temos de mudar o modelo de gestão e fazer com que a
iniciativa privada atenda seus alunos de forma séria”, disse Moran.
Segundo
o professor, as instituições particulares, ao planejarem a expansão
para a EAD, priorizam as metas quantitativas. “Os aspectos pedagógicos
são engolidos pela visão econômica”, ressaltou Moran, que já realizou
consultorias para redes de ensino privada e é pesquisador da área de
tecnologia educacional.
O professor também acompanha iniciativas
públicas. “Eu sou a favor da Universidade Pública a Distância, mas o
modelo de gestão implantado no Brasil é absolutamente caótico”.
Tendo
como objetivo a expansão da educação pública, o MEC criou em 2005 a
Universidade Aberta do Brasil (UAB) – sistema que busca articular as
instituições já existentes para estimular a ampliação da oferta de
ensino superior, priorizando a formação de professores para Educação
Básica.
“Não há uma cultura de integração entre as
universidades. É o curso da USP, o da Unesp. Não conseguimos ter uma
proposta conjunta. Se esse modelo permanecer, vamos pagar um preço
terrível no futuro”, alertou Moran.
Moran criticou ainda algumas
regras do MEC para o Ensino Superior a Distância. O professor considera
um contrassenso um modelo de educação a distância ancorado na
territorialidade. “É preciso fazer a ponte entre Federal e Estadual,
olhando mais para o macro”.
O professor da USP lembrou ainda que
legislação brasileira exige que no mínimo 20% do total de horas-aula
dos cursos credenciados pelo MEC seja presencial. “Não temos EAD no
Brasil, mas semipresencial. Na graduação, se não tiver o polo local, o
projeto não passa pelo MEC”.
Moran apontou outro desafio para
que aumente a qualidade dessa modalidade de ensino: a formação de
profissionais para trabalhar com EAD. “Como vamos criar equipes que
possam gerenciar tanto o presencial quanto a EAD?”, questionou.
Para
o professor da Universidade de Educação a Distância (UNED), da Espanha,
Santiago Castillo Arredondo, é importante ter professores dedicados
apenas a EAD. Já Moran defende uma maior integração entre os
profissionais das duas modalidades. Também considera importante haver
um currículo comum para os cursos a distância e presencial. “A
Universidade é uma só e deve ter políticas integradas”, argumentou o
docente brasileiro.
Modelo de Avaliação Internacional
O
seminário contou ainda com a presença do professor da Universidade
Aberta de Portugal, Domingo Caiero. Ele apresentou a experiência
portuguesa na avaliação de EAD.
Fundada em 1988, a Universidade
Aberta oferece 15 licenciaturas e está desenvolvendo uma proposta de
indicadores para avaliar a EAD em Portugal. Segundo Caieiro, a Agência
de Avaliação e Creditação de Ensino Superior criou indicadores para a
modalidade presencial, mas são insuficientes para avaliar a qualidade
da EAD.
“Até novembro, teremos os indicadores para o ensino a
distância em Portugal. A proposta é enviar à Agência para que ocorra
uma integração entre os modelos de avaliação”, explicou Caieiro.
(Envolverde/Aprendiz)
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