PARA TODAS E TODOS, ESSA É UMA AÇÃO JÁ ESPERADA POR MUITO DE NÓS. SÓ ENTENDO QUE O DEBATE PODERIA SER MAIS AMPLO DE QUALQUE FORMA A AÇÃO É VÁLIDA.
paulo roberrto
26/10/2009 - 12h10
Por Talita Mochiute, do Aprendiz
Qual é a especificidade do trabalho educativo na primeira etapa
da educação básica? Como a ampliação do Ensino Fundamental para nove
anos interfere no papel da Educação Infantil? Qual é a relação da
Educação Infantil com as diversidades? São algumas questões presentes
no debate sobre a elaboração das novas Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) para Educação Infantil.
Devido às mudanças
pelas quais passou a educação brasileira nos últimos dez anos, a Câmara
de Educação Básica (CEB) – integrante do Conselho Nacional de Educação
(CNE), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) – está
revisando, desde o início deste ano, as normas que norteiam as
propostas pedagógicas e os planejamentos curriculares das instituições
de Educação Infantil.
“A última resolução é de 1999. Frente às
generalidades operacionais e curriculares é fundamental que o MEC
oriente as propostas pedagógicas”, comentou a coordenadora-geral de
Educação Infantil da Secretaria de Educação Básica, do MEC, Rita Coelho.
As
Diretrizes Curriculares Nacionais são normas obrigatórias que
estabelecem os princípios, as metas e os objetivos a serem buscados por
determinada etapa da educação brasileira. Para atualizar a
normatização, o CNE promoveu consulta nacional e audiências públicas
nas cidades de São Luís (MA) e São Paulo (SP).
No município
paulista, membros do CNE/ MEC, instituições ligadas à primeira etapa da
educação básica, à infância e especialistas se reuniram na última
terça-feira (20/10) na Câmara dos Vereadores para discutir a revisão do
Parecer CNE/CEB nº 22/98 (http://www.cesarcallegari.com.br/files/arquivos/1251842922.pdf) e da Resolução CNE/CEB nº 01/99 (http://www.cesarcallegari.com.br/files/arquivos/1251843079.pdf). A ideia era discutir o documento com as indicações para a elaboração das Diretrizes (http://www.cesarcallegari.com.br/v1/DIRETRIZES.DOC). Assim, a partir do debate, incorporar as modificações ou proposições da sociedade ao texto.
“Pretendemos
terminar o documento até 30 de outubro. Em novembro, apresentá-lo para
votação no CNE”, explicou o relator das DCNs para Educação Infantil e
membro do CNE, Moacir Feitosa.
Segundo a professora da
Universidade de São Paulo (USP) e consultora das Diretrizes, Zilma
Oliveira, o novo documento deve manter o princípio da primeira
diretriz: a Educação Infantil como um direito da criança. Já a
professora da USP Ribeirão e consultora das DCNs, Ana Paula Soares,
lembra que é preciso pensar como será o tratamento dado às
diversidades. “Vamos destacar orientações específicas para populações
não-urbanas (campo, indígena e quilombola) ou traremos essas questões
nos fundamentos?”, questionou.
Indicações da sociedade civil
Os
participantes da audiência pública em São Paulo foram favoráveis ao
destaque dado à diversidade no documento preliminar. No entanto,
reivindicaram também mais ênfase ao direito à igualdade. “Além do
problema da desigualdade de acesso à creche, hoje a garantia de vaga
não significa igualdade de oportunidade ao conhecimento”, apontou a
professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e pesquisadora da
Fundação Carlos Chagas, Maria Malta Campos.
Para Maria Malta, as
novas diretrizes devem ainda destacar a transição da Educação Infantil
para o Ensino Fundamental. “Como primeira etapa da educação básica, a
Educação Infantil precisa oferecer atividades que propiciem o
letramento e a alfabetização sem caráter obrigatório”.
A
professora de Educação Infantil e secretária-executiva das Escolas
Waldorf no Brasil, Maria Chantal Amarante, reforçou a preocupação com o
ensino de crianças em fase de transição da Educação Infantil para o
Ensino Fundamental. “Considero a alfabetização precoce um malefício
para crianças em fase de desenvolvimento motor, corporal. A
alfabetização é o fim de um processo de leitura de mundo, deve ser
iniciado só a partir dos 6 anos de idade”.
Além do período de
transição, alguns participantes, como o presidente do Conselho Estadual
de Educação de São Paulo, Arthur Fonseca Filho, levantaram a
necessidade do documento detalhar as especificidades da creche e da
pré-escola. “É absolutamente necessário tratar da creche em um bloco
distinto, definindo com clareza o papel do educador em cada segmento”.
A
consultora Zilma Oliveira fez um contraponto a essa indicação. “É
possível detalhar as orientações. A especificidade ajuda por um lado,
mas atrapalha por outro. Também é preciso lembrar que é não estamos
fazendo um documento de referências curriculares, mas de diretrizes”.
Por
outro lado, o maior detalhamento do papel do educador da Educação
Infantil foi um dos pontos de consenso. “Deve-se enfatizar a atuação
intencional do professor para o desenvolvimento integral das crianças”,
destacou Maria Malta. “Temos de pensar em quem faz o dia-a-dia da
Educação Infantil”, complementou a integrante da comissão gestora do
Fórum Paulista de Educação Infantil, Sylvie Klein.
Sylvie
comentou também que uma das conquistas da DCN anterior foi a definição
do número máximo de alunos por professor. Por isso, o novo documento
deve contemplar esse item. “Um professor não pode ficar com mais de 25
alunos em uma sala”, destacou a professora da Universidade Federal de
São Carlos (UFScar), Matilde Santos.
Já os secretários
municipais de Diadema e Santa Bárbara d’Oeste, Lúcia Couto e Herb
Carlini, apontaram o problema da falta de recursos para Educação
Infantil e a questão do acesso. “Não conseguimos atender a todos. Além
disso, uma criança na creche custa o dobro de uma no Ensino
Fundamental”, disse Carlini.
Articulação das DCNs
O
relator das DCNs Moacir Feitosa disse que as contribuições da sociedade
civil são importantes para a elaboração do documento. “Embora algumas
questões levantadas sejam de gestão e financiamento, é preciso
relacionar esses aspectos na hora de pensar as diretrizes”.
De
acordo com a assessora da organização Ação Educativa, Samantha Neves, o
documento deve ser articulado com as diferentes políticas voltadas à
Educação Infantil nas diferentes esferas. “Não adiantar alcançar um voo
muito alto sem raízes firmes no chão”, ressaltou.
Para que o
documento chegue até quem está na ponta do processo educacional, como
diretores, coordenadores e professores, o Núcleo de Desenvolvimento
Infantil, da Universidade de Santa Catarina, representado pela
professora Marilene Raupp, sugeriu que o MEC publique uma edição
comentada sobre as diretrizes, esclarecendo conceitos presentes no
documento.
(Envolverde/Aprendiz)
Nenhum comentário:
Postar um comentário