à
Zumbi dos Palmares -
Se repetem
sempre
e há tanto,
que de tão
surdos
o absurdo
se fez óbvio.
E de tão
óbvio
o lamento
se fez covardia,
no estupro
do dia a dia.
Índios,
negros,
cafuzos,
mulatos,
caboclos e
mamelucos
se
esquecem do látego
em
compungidas histórias
de
feitores,
sobre
suspiros de sinhazinha.
Negras
outras,
índias e
brancas loucas
se davam a
quilombos
sem ética e
compostura
pretendendo
a propositura
de
liberdade e futuro.
- x -
Se repetem
sempre
e há tanto,
que de tão
surdos
o absurdo
se fez óbvio.
E de tão
óbvio
o lamento
se fez covardia,
no estupro
do dia a dia.
Até que se
fez abolição!
Índios e
negros,
cafuzos,
mulatos,
caboclos e
mamelucos
continuaram
se esquecendo do látego
em
compungidas histórias
de clérigos
e vigários,
sobre
suspiros de sinhazinha.
- x -
Se repetem
sempre
e há tanto,
que de tão
surdos
o absurdo
se fez óbvio
E de tão
óbvio
o lamento
se fez covardia,
no estupro
do dia a dia.
Até que se
fez revolução!
Mas não foi
de
negras
outras,
índias e
brancas loucas
se dando a
quilombos
sem ética e
compostura,
pretendendo
a propositura
de
liberdade e futuro.
Índios e
negros,
cafuzos,
mulatos,
caboclos e
mamelucos
continuaram
esquecendo o látego
em
compungidas histórias
de
radiotransmissores,
sobre
suspiros de sinhazinhas.
- x -
Se repetem
sempre
e há tanto,
que de tão
surdos
o absurdo
se fez óbvio
E de tão
óbvio
o lamento
se fez covardia,
no estupro
do dia a dia.
Até que se
fez um golpe!
Militares e
ditadura.
No látego
dos feitores
tanto foram
as dores
tamanho foi
o medo
que até
negras outras,
índias e
brancas loucas
silenciaram
quilombos
na
imposição de éticas e composturas.
Mas então
acalentaram meninos brancos
de olhos
injetados
esverdeando
esperanças
por outros
dias de amanhãs
com
liberdade e futuro.
Índios e
negros,
cafuzos,
mulatos,
caboclos e
mamelucos,
continuaram
esquecendo
torturas e
masmorras
em
compungidas histórias
de
televisores,
sobre
suspiros de sinhazinha.
- x –
Se repetem
sempre
e há tanto,
que de tão
surdos
o absurdo
se fez óbvio
E de tão
óbvio
o lamento
se fez covardia,
no estupro
do dia a dia.
Até que se
fez mobilização!
Índios e
negros,
cafuzos,
mulatos,
caboclos e
mamelucos
quiseram
solução
sem látego.
Saíram às
ruas
pelas
Diretas Já.
Mas, no
vício de
compungidas
histórias
sobre os
suspiros de sinhazinha
traíram as próprias
conquistas
e aceitaram
prorrogação
para o
poder de decisão.
Depois
acreditaram em mentirinha
de jornal e
revista,
inventando
caçador de marajá.
- x –
Pois o
látego
se repetiu
tanto e sempre,
sempre e
tanto,
tanto,
sempre...
que, por
fim,
o óbvio foi
se fazendo absurdo.
Na Casa
Grande
suspirou
sinhazinha,
mas índios
e negros,
cafuzos e
mulatos,
caboclos e
mamelucos,
cansados de
tamanha empáfia,
com o saco
cheio de tanta
bazófia,
enfim,
não mais
acreditaram em suspiros
e manhas de
sinhá.
E o povo
deixou
de ser
surdo,
se
revoltando contra a covardia,
do estupro
do dia a dia.
Doidos e
histéricos
berraram os
feitores,
blasfemaram
clérigos e vigários,
gritaram
radiotransmissores
e por
televisores,
páginas de
jornais e revistas,
se previu
crise e apocalipse.
Sem
qualquer compostura
esquecida
da ética,
errática
sinhazinha
revolve
escombros
da Casa
Grande
em busca do
dia a dia
de tantos
óbvios
a
falsificarem absurdos.
Pobre
sinhazinha,
de incerto
amanhã,
se buscando
na surdes
da própria hipocrisia.
Pobre
sinhazinha
já velha
anciã,
tendo de
esconder o que fez
e acreditar
no que mentia.
Pois,
vindo das
entranhas de negras outras,
de índias e
brancas loucas,
se pariu a
voz dos quilombos.
Nova
história se anuncia
sem mucama
e sinhazinha.
Nova
história se escreve,
onde a
liberdade não estará
sozinha.
É a
liberdade da
mão que
constrói
sem o
látego que destrói
qualquer
futuro e esperança
no adulto
ou na criança.
Propositura
diferente daquela
das
promessas de sinhazinhas,
para que negros
e mamelucos,
índios e
mulatos
caboclos e
cafuzos
se mintam
acreditando
que senzala
seja óbvio.
Não mais
negros, brancos e índios
confusos!
Não mais
todo um povo surdo
ao sempre
absurdo!
Chega da
cultura de senzala!
Em cada
casa, em todos os lares,
que se
institua um Palmares!
Negros,
índios,
caboclos,
cafuzos,
mulatos e
mamelucos!
Brancos
malucos!
Todos
libertos da escravidão à mídia,
que nos
ensurdece à própria ignomínia!
Por Raul
Longo
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