Com filhos da elite em proporção cada vez menor,
alunos de baixa renda são maioria: classes C, D e E correspondem a 73,7%
POR MARIA LUISA BARROS
Rio - Um
fenômeno recente está dando novo rosto às universidades brasileiras e mudando,
para melhor, a vida
de milhares de famílias. Pesquisa inédita do Data Popular, instituto
especializado em mercado emergente no Brasil, revela que, pela primeira vez na
década, jovens de baixa renda são maioria nas faculdades. Eles são 73,7% dos
universitários. “É um contingente enorme que representa a primeira geração de
suas famílias a obter um diploma de nível superior”, constata Renato Meirelles,
sócio-diretor do instituto de pesquisa.
Ronald é
o primeiro da família a entrar em uma universidade. Ele trabalha como voluntário
em pré-vestibular social ajudando outros jovens | Foto: Deisi Rezende / Agência
O Dia
O estudo mostra que os estudantes da classe D,
oriundos de famílias que ganham menos de 3 salários mínimos (R$ 1.530),
ultrapassaram os filhos da elite nos campi. Uma das razões para esta revolução
no ensino apontada por Meirelles foi o Programa Universidade para Todos
(ProUni) que já atendeu 747 mil estudantes de baixa renda nos últimos seis
anos.
De 2002 a 2009, as faculdades, públicas e particulares, receberam 700 mil estudantes da classe D — média de 100 mil jovens a cada ano. Se há oito anos eles ocupavam somente 5% do bolo universitário, em 2009 chegaram a 15,3%. Já os da classe A perderam participação no total: a fatia caiu de 24,6% para 7,3%.
De 2002 a 2009, as faculdades, públicas e particulares, receberam 700 mil estudantes da classe D — média de 100 mil jovens a cada ano. Se há oito anos eles ocupavam somente 5% do bolo universitário, em 2009 chegaram a 15,3%. Já os da classe A perderam participação no total: a fatia caiu de 24,6% para 7,3%.
Ronald
Rosa Fonseca, 25 anos, passou pelo funil da exclusão social. Filho de uma
doméstica e de um mecânico, teve o apoio dos patrões da mãe para cursar o 4º
período de Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica (PUC). “Eles
permitiram que eu morasse na casa deles, no Leme, onde minha mãe trabalha. Não
teria condições de estudar morando em Magé”, conta ele, que passou em 11º lugar
no vestibular. Graças ao bom desempenho, a PUC deu a ele bolsa integral,
passagem, alimentação e livros.
INVESTIMENTO PESADO
De acordo
com Meirelles, para esses jovens a universidade é um investimento pesado, mas
que vale a pena: “A família vê no estudo a única chance de mudar as condições
de vida de todos”. Em retribuição à ajuda que recebeu para entrar na faculdade,
Ronald voltou para o pré-vestibular gratuito mantido pela empresa ExxonMobil
como coordenador. “Quem consegue entrar tem quase um compromisso de voltar e
fazer o mesmo por outros jovens”, diz ele. Além do curso, os alunos participam
de oficinas culturais, palestras, visitas a museus, universidades e empresas.
Em janeiro, será aberta nova seleção. Informações: 2505-1233 e 2505-1256.
Número de universitários cresceu 57% em sete anos
Número de universitários cresceu 57% em sete anos
Entre
2002 e 2009, o número de universitários no Brasil passou de 3,6 milhões para
5,8 milhões, um avanço de 57%.
Noventa
por cento da população ganham até 10 salários mínimos e movimentam R$ 760
bilhões ao ano.
As
classes A e B detêm 26,3% das vagas no ensino superior, enquanto estudantes da
C, D e E representam 73,7% do total.
Em todas
as classes sociais, houve aumento dos homens nas faculdades, mas as mulheres
são a maioria (57%).
A média
da idade dos universitários aumentou: passou de 25,87 em 2002 para 26,32, em
2009.
A necessidade de trabalhar para pagar a faculdade faz com que a maioria prefira estudar à noite ou em meio período.
A necessidade de trabalhar para pagar a faculdade faz com que a maioria prefira estudar à noite ou em meio período.
Rede de apoio para estudantes carentes
Para
atravessar os portões das universidades, estudantes de baixa renda contam com
extensa rede de apoio que inclui programa de bolsas em faculdades privadas,
orientação profissional e pré-vestibular social patrocinados por grandes
empresas. É o caso do estudante Carlos Henrique Simões, 22 anos, morador de
Realengo, Zona Oeste, que será o primeiro da família a prestar vestibular.
Há um
ano, ele frequenta as aulas do pré-vestibular custeado pela empresa petrolífera
Exxon Mobil, em parceria com o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE). Os
alunos recebem bolsa-auxílio de R$ 100 por mês e vale-transporte para que não
abandonem os estudos. “Eles chegam com tanta vontade de fazer faculdade que
demonstram uma força imensa, capaz de superar qualquer obstáculo”, diz Valéria
Lopes, supervisora do CIEE.
Desde que
foi criado, em 2004, o Programa Mais ajudou 51 estudantes a ingressar na
universidade. Carlos não só está próximo de realizar seu sonho, como está
levando junto a família. “Minha mãe voltou a estudar e está a caminho de
concluir o Ensino Médio. Meu irmão mais velho também retomou os estudos”, conta
o estudante, que fará Serviço Social.
Renda aumentou e mensalidade despencou
Renda aumentou e mensalidade despencou
A
ascensão dos jovens de baixa renda aos bancos universitários foi favorecida
pela universalização do Ensino Médio e pela expansão das faculdades privadas,
que fez despencar o preço das mensalidades. Além disso, foram criados cursos
universitários de dois anos e a classe D obteve aumento na renda. “Depois de
pagar a comida, aluguel e condução, começou a sobrar dinheiro para pagar os
estudos”, observa Renato Meirelles.
Segundo
ele, a classe C já representa o maior número de alunos em escolas privadas, com
mais de 4 milhões de crianças matriculadas. “É um círculo virtuoso baseado na
reciprocidade. Quem é ajudado ajuda outros a melhorar de vida”, explica. Ainda
na classe C, 68% das pessoas estudaram mais do que os pais; entre a classe A
esse percentual é de apenas 10%.
A partir do ano que vem, jovens terão mais um incentivo. A UFRJ vai destinar 20% das vagas para estudantes de escolas públicas. Os candidatos serão aprovados por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A instituição planeja dar mil bolsas-auxílio, Bilhete
A partir do ano que vem, jovens terão mais um incentivo. A UFRJ vai destinar 20% das vagas para estudantes de escolas públicas. Os candidatos serão aprovados por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A instituição planeja dar mil bolsas-auxílio, Bilhete
NOTA DO BLOGUEIRO: Essa é a revolução silenciosa que Infelizmente incomoda a muita gente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário