Anselmo Massad - Rede
Brasil Atual
Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
São Paulo – O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sofre uma ofensiva de interesses, segundo o sociólogo e consultor na área de educação Rudá Ricci. Ele enumera grupos e setores do que chama de "indústria do vestibular", de cursos preparatórios a docentes encarregados de formular as provas. Para ele, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional.
São Paulo – O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sofre uma ofensiva de interesses, segundo o sociólogo e consultor na área de educação Rudá Ricci. Ele enumera grupos e setores do que chama de "indústria do vestibular", de cursos preparatórios a docentes encarregados de formular as provas. Para ele, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional.
"Uma prova nacional
permite que o país trace objetivos de política educacional", esclarece. Um
vestibular nacional do ponto de vista da aplicação e do conteúdo promove um
impacto no ensino médio, de modo a reverter problemas dessa faixa da educação.
Para ele, os
vestibulares descentralizados, feitos por cada universidade, provocam danos à
educação, já que o ensino médio e mesmo o fundamental direcionam-se às provas,
e não à formação em sentido mais amplo. "O ensino médio é o maior problema
da educação no Brasil, é o primeiro da lista, com mais evasão, em uma profunda
falência", sustenta.
"O Enem faz questões
interdisciplinares, é absolutamente técnico, é super sofisticado", elogia.
Os méritos estariam em privilegiar o raciocínio à memorização de conteúdos.
Isso permitiria que o ensino aplicado nas escolas fosse além do preparo para
enfrentar provas de uma ou outra universidade.
O Enem traz uma
"profunda revolução", na visão de Rudá, "ao combater
profundamente a concepção pedagógica e política de vestibulares por
universidade". Ao se aproximar dessa concepção nacional – fato que
aconteceu apenas nos últimos anos –, interesses de grupos educacionais foram
colocados em xeque, o que desperta ações contrárias.
Entre os setores
interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que
arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e
abertas, e os cursos preparatórios para o vestibular.
Controle social
Ricci critica a postura
do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, e da ex-secretária de Educação de São
Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. O sociólogo taxa os comentários feitos
pelos especialistas ligados ao PSDB como "oportunismo". Isso porque,
segundo ele, o uso da prova como seleção e seu caráter nacional, hoje
criticados pelos tucanos, foram objetivos perseguidos durante a gestão de
Renato na pasta, de 1995 a
2002.
O que ele considera como
mudança de postura é resultado da disputa política, que faz com que os
estudantes passem a rejeitar o exame. "Os jovens não querem mais essa
bagunça. E têm razão", pontua.
"Existe uma
movimentação para politizar esse tema; vamos ter o avanço de uma oposição
organizada, que junta as forças políticas que perderam a eleição nacional com
escolas particulares, cursinhos que têm muito interesse na manutenção do
sistema de vestibular", avalia.
O sociólogo defende o
modelo de exame nacional, mas acredita que a fórmula possa ser aprimorada, seja
com mais dias de provas, seja com provas aplicadas a cada ano do ensino médio.
Ele aponta ainda que houve um desvirtuamento da proposta interdisciplinar e
sofisticada, empregada originalmente, em função da necessidade de expandir a
prova. Em 2010, foram 4,6 milhões de inscritos.
Ele acredita que a postura de críticas deve-se às diferenças partidárias. "Estão politizando o Enem, politizando o ingresso na universidade e o conteúdo da prova", lamenta. "Seria interessante ter um órgão que execute o exame sob controle social, não de governo, nem de empresas", sugere.
Ele acredita que a postura de críticas deve-se às diferenças partidárias. "Estão politizando o Enem, politizando o ingresso na universidade e o conteúdo da prova", lamenta. "Seria interessante ter um órgão que execute o exame sob controle social, não de governo, nem de empresas", sugere.
"A solução é nós discutirmos
nacionalmente esse gerenciamento em um modelo como o americano para o
vestibular nacional", defende. O SAT, usado como método de seleção nos
Estados Unidos, é aplicado por agentes privados de modo controlado pelo
departamento de educação federal. Além de poder ser aplicado em dias
diferentes, cartas de recomendação de professores e outros instrumentos também
são considerados na seleção por parte de universidades.
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