Paulo Roberto é Pedagogo, Sindicalista e Petista.

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Dever cumprido é fruto da ousadia de um velho militante das lutas democráticas e sociais do nosso Brasil, que entende que sem uma interação rápida, ágil, eficiente e livre com o que rola pelo mundo, a democracia é pífia.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Transição revela uma executiva a caminho da Presidência

Eleita presidente da República pelas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff mostrou, nos dois meses da transição de governo, traços da liderança com que exercerá o principal cargo político do país a partir de sábado. Montou seu ministério ao estilo de um CEO - Chief Executive Officer, sigla em inglês para presidente de empresas - em etapas pré-definidas, estabelecendo hierarquias e não abrindo mão de autoridade. Fez concessões aos partidos e atendeu a pedidos de Lula, seu mentor, mas não aceitou imposições nem fatos consumados. A primeira vítima do estilo da presidente eleita foi Sérgio Côrtes, secretário de Saúde do Rio. Côrtes foi indicado pelo governador fluminense Sérgio Cabral para ser o novo ministro da Saúde. Dilma, que tem afeição por Cabral, gostou da ideia e combinou que o nome de Côrtes seria vazado à imprensa sem confirmação oficial.
O objetivo era testar a indicação com outras lideranças do PMDB e dos partidos aliados. A depender das circunstâncias, negociar. O acerto não funcionou. Entusiasmado com a conversa de três horas com Dilma, Cabral anunciou à imprensa que Côrtes seria ministro. A presidente eleita não gostou. Viu o ato de Cabral como uma tentativa de fato consumado. O PMDB reagiu e Dilma desautorizou Cabral.
"Ela não abre mão da autoridade que tem. É o seu estilo", diz um colaborador próximo. Essa característica ficou clara também no episódio envolvendo Henrique Meirelles. O atual presidente do Banco Central era cotado para um cargo na equipe de Dilma, apesar das dificuldades políticas. O PMDB, seu partido, prometera durante a campanha indicá-lo ao ministério, mas não cumpriu o acordo. Antes do início da campanha, Meirelles chegou a ser cogitado, por iniciativa de Lula, a ser o vice.
Dentro do seu planejamento de, em primeiro lugar, anunciar os nomes da equipe econômica, a presidente eleita definiu a permanência de Guido Mantega na Fazenda. Mantega não era o que ela tinha em mente. Seu desejo era nomear o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Foi o presidente Lula quem a convenceu a manter o atual ministro.
"Ela gosta do Guido, mas não tem paixão por ele", conta um auxiliar de Dilma. Desde a campanha, no entanto, ela já desconfiava de que Lula intercederia pelo ministro e que, se o fizesse, ela não deixaria de atendê-lo. O presidente tanto fez que Dilma acabou se convencendo da conveniência da decisão, segundo relatam assessores. "Com ele [Mantega], Dilma teve a certeza de que é ela que vai mandar."
A confirmação de Mantega vazou à imprensa antes de Dilma confirmar outros nomes da área econômica. Meirelles, que estava no exterior, se sentiu desprestigiado. Poucos depois, saiu na imprensa uma espécie de ultimato do presidente do BC, dando conta de que ele só ficaria no cargo se tivesse autonomia. Dilma irritou-se com a suposta atitude de Meirelles e mais ainda com o fato de ele não a ter desmentido a tempo.
"O Meirelles demorou quase 72 horas para voltar atrás. Agora, não corrige mais", sustentou, na ocasião, um ministro com acesso à presidente eleita. Naquele momento, entrou em cena, como bombeiro, Antônio Palocci, principal operador político de Dilma. O deputado conseguiu convencer a presidente eleita a receber Meirelles. O horário foi inusual - meia-noite e meia.
As preocupações de Palocci eram duas. A primeira era apaziguar a relação entre os dois. A outra era evitar que Meirelles, frustrado e zangado, se apresentasse dessa forma, no dia seguinte, em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O colóquio na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência e onde Dilma reside desde a eleição, foi até às 3h30 da madrugada. E cumpriu seu objetivo.
O caso Meirelles revelou um outro traço da personalidade da presidente eleita - a capacidade de perdoar. "Ela nos dá broncas severas, mas depois as desfaz ou então nos trata no dia seguinte como se nada tivesse acontecido", testemunha um auxiliar. O encontro com Meirelles no Torto serviu não só para aparar arestas, mas também para reacender a possibilidade de ele ainda integrar o ministério Dilma. Na semana passada, ela tomou a iniciativa de chamar Meirelles para uma conversa demorada, num sofá do Palácio da Alvorada, durante jantar oferecido por Lula aos atuais e aos futuros ministros.
"Meirelles, continuo pensando em você", teria dito Dilma, segundo relato de um ministro que ouviu parte da conversa. O plano da presidente é nomeá-lo ou para a Secretaria Nacional da Aviação Civil, que ela pretende tirar do Ministério da Defesa e vincular à presidência, ou para ser a Autoridade Olímpica brasileira. O plano inicial era juntar aeroportos e portos numa só Pasta, mas, como a negociação com o PSB tomou rumo inesperado, Dilma desistiu da ideia. Alegando risco de caos aéreo no fim do ano, deixou os aeroportos sob os cuidados da Defesa até a criação do novo ministério.
O PSB foi outro capítulo revelador da maneira como a presidente eleita atua politicamente. O partido, aliado de Lula desde a campanha presidencial de 1989, saiu fortalecido das eleições. Elegeu seis governadores e aumentou a bancada na Câmara. Além disso, teve os dois governadores mais bem votados do país - Eduardo Campos (Pernambuco) e Renato Casagrande (Espírito Santo).
A legenda foi para a negociação cheia de expectativa, mas Dilma, desde o início, segundo relatos colhidos pelo Valor, decidira que não lhe daria três ministérios. Antes de tomar qualquer decisão, ela quis ouvir o ex-ministro Ciro Gomes, com quem desenvolveu, no ministério de Lula, uma relação próxima desde o escândalo do mensalão, - Ciro ganhou prestígio por ter atuado na linha de frente de defesa do governo.
Dilma ouviu de Eduardo Campos que Ciro não gostaria de ser ministro. A presidente quis falar com o próprio para confirmar a negativa. Ao telefonar para ele, ao lado de Campos, escutou que a história não era bem aquela. Deu a Ciro, então, alguns dias para tomar uma decisão. A manobra diminuiu o ímpeto de Campos, principal liderança do PSB. No fim, o partido ficou apenas com dois ministérios - Portos (sem aeroportos) e Integração Nacional.
Um outro socialista - o senador Antônio Carlos Valadares (SE) - sentiu na pele o rigor de Dilma. Valadares era cotado para o ministério e, assim, abrir vaga para que seu primeiro suplente, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, assumisse seu mandato no Senado. Nas conversas internas, cogitou-se entregar a Valadares uma nova Pasta - a das Pequenas e Médias empresas. Valadares esnobou a oferta, arrependeu-se depois, mas já era tarde. Dilma não tolerou seu comportamento. Resultado: nem ele seria mais ministro nem o ministério seria criado.
Uma das dificuldades de Dilma foi lidar com ex-colegas de ministério interessados em continuar ministros em sua gestão. O caso mais dramático e constrangedor foi o do chanceler Celso Amorim. A presidente já havia decidido que Amorim não ficaria, acenara para Antônio Patriota há mais de ano, mas o chanceler não se conformava. Esperançoso, foi repetidas vezes ao Palácio do Planalto pedir ajuda a Lula, que chegou a comentar com um auxiliar: "O cara não se manca que o nosso tempo acabou".
A presidente eleita organizou o período de transição com uma preocupação central: não melindrar Lula. Ela desconfiava de que uma exposição pública demasiada abriria espaço para a imprensa jogá-la contra Lula. Por isso, recolheu-se à Granja Torto e de lá comandou a montagem do ministério. Em 60 dias de transição, só quebrou essa regra uma única vez, para dar entrevista ao jornal americano "The Washington Post". "Não vou sentar na cadeira [de presidente] antes da hora", declarou ela mais de uma vez a colaboradores.
Dilma tem noção exata do que o exercício da presidência da República representa para Lula. Por essa razão, ficou irritadíssima quando Guido Mantega anunciou que faria cortes em obras do PAC previstas no orçamento de 2011. Na avaliação dela, Mantega falou não como ministro de Lula, mas, sim, como seu ministro. Preocupada, convocou-o imediatamente para uma conversa no Torto. O ministro acabou recebendo um carão simultâneo: enquanto ouvia as queixas de Dilma, foi apanhado por um telefonema ríspido de Lula, exigindo um desmentido.
O episódio só confirmou os temores da presidente eleita. Até 31 de dezembro, o artista principal é Lula. "A partir de janeiro, inverte-se o papel", diz um ministro amigo dos dois.
Liberada das aparições públicas, Dilma fez durante a transição o que mais gosta - coordenar, gerir, dar ordens. "Ela ficou mais parecida nesse momento com a Dilma real, focada na gestão, nas tarefas", conta um assessor. Ali, começou também a transmutar-se, passando do papel de ministra e candidata ao de presidente. Decidiu que só conversaria pessoalmente com os expoentes de cada partido - no caso do PMDB, o vice-presidente eleito Michel Temer e os senadores José Sarney e Renan Calheiros e Sérgio Cabral. Agindo assim, recusou-se a atender o que seus auxiliares chamam de "segundo escalão da política". "O Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara, por exemplo", contou um interlocutor permanente.
"Na transição, ela começou a se comportar como presidente. Ficou, por exemplo, mais cuidadosa com as conversas ao telefone", relatou um auxiliar.
Dilma tem um estilo de trabalho bem distinto ao de Lula. O presidente delonga-se em reuniões com ministros e auxiliares para tomar decisões. Faz disso um processo coletivo. Seu gabinete no terceiro andar do Planalto tem acesso franqueado a algumas pessoas. No fundo, Lula não gosta de ficar sozinho. Já a presidente eleita aprecia trabalhar de forma solitária. É quando se concentra para refletir antes de tomar decisões.
A presidente eleita é uma pessoa reservada. Poucas pessoas têm acesso a ela quanto seus dois secretários particulares André Segatin e Anderson Dornelles. Os dois fazem e recebem ligações telefônicas, consultam e respondem e-mails, carregam o laptop, o telefone celular e a mais nova diversão da presidente eleita: um iPad, o tablet que ela usa principalmente para ler livros virtuais.
O companheiro mais frequente durante a campanha e a transição foi Palocci. O deputado atuou como intermediário junto aos partidos aliados, tendo negociado intensamente com o PMDB, além de ter cumprido, sempre nos bastidores, as missões políticas mais espinhosas.

Um comentário:

  1. MEC proíbe 15 instituições de expandir vagas no ensino superior

    Quinze instituições de ensino superior que tiveram avaliações ruins do Ministério da Educação nos últimos três anos estão impedidas de aumentar o número de vagas e de cursos.

    A medida foi tomada com base no IGC (Índice Geral de Cursos), indicador que leva em conta a nota dos alunos no Enade (exame federal) e outros indicadores como infraestrutura e qualidade do corpo docente. Ela vale até a divulgação do próximo IGC, no ano que vem. O índice tem notas que vão de 1 a 5. São consideradas insatisfatórias as médias 1 e 2.

    Veja abaixo a lista de instituições que não podem mais se expandir:

    UniABC (Universidade do Grande ABC) - SP
    UNIb (Universidade Ibirapuera) - SP
    Unig (Universidae Iguaçu) - RJ
    USU (Universidade Santa Úrsula) - RJ
    Unirondon (Centro Universitário Cândido Rondon) - MT
    UniverCidade (Centro Universitário da Cidade) - RJ
    Unidesc (Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro-Oeste) - GO
    Ciesa (Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas) - AM
    Univag (Centro Universitário de Várzea Grande) - MT
    Unorp (Centro Universitário do Norte Paulista) - SP
    Unieuro (Centro Universitário Euro-Americano) - DF
    MSB (Centro Universitário Moacy Sreder Bastos) - RJ
    Uniplan (Centro Universitário Planalto do Distrito Federal) - DF
    UniSant'Anna (Centro Universitário Sant'Anna) - SP
    Ceulm/Ulbra (Centro Universitário Luterano de Manaus) - AM

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