Eleita
presidente da República pelas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma
Rousseff mostrou, nos dois meses da transição de governo, traços da liderança
com que exercerá o principal cargo político do país a partir de sábado. Montou
seu ministério ao estilo de um CEO - Chief Executive Officer, sigla em inglês
para presidente de empresas - em etapas pré-definidas, estabelecendo
hierarquias e não abrindo mão de autoridade. Fez concessões aos partidos e
atendeu a pedidos de Lula, seu mentor, mas não aceitou imposições nem fatos
consumados. A primeira vítima do estilo da presidente eleita foi Sérgio
Côrtes, secretário de Saúde do Rio. Côrtes foi indicado pelo governador
fluminense Sérgio Cabral para ser o novo ministro da Saúde. Dilma, que tem
afeição por Cabral, gostou da ideia e combinou que o nome de Côrtes seria
vazado à imprensa sem confirmação oficial.
O objetivo era testar a indicação com outras
lideranças do PMDB e dos partidos aliados. A depender das circunstâncias,
negociar. O acerto não funcionou. Entusiasmado com a conversa de três horas
com Dilma, Cabral anunciou à imprensa que Côrtes seria ministro. A presidente
eleita não gostou. Viu o ato de Cabral como uma tentativa de fato consumado. O
PMDB reagiu e Dilma desautorizou Cabral.
"Ela não abre mão da autoridade que tem. É o seu
estilo", diz um colaborador próximo. Essa característica ficou clara também no
episódio envolvendo Henrique Meirelles. O atual presidente do Banco Central
era cotado para um cargo na equipe de Dilma, apesar das dificuldades
políticas. O PMDB, seu partido, prometera durante a campanha indicá-lo ao
ministério, mas não cumpriu o acordo. Antes do início da campanha, Meirelles
chegou a ser cogitado, por iniciativa de Lula, a ser o
vice.
Dentro do seu planejamento de, em primeiro lugar,
anunciar os nomes da equipe econômica, a presidente eleita definiu a
permanência de Guido Mantega na Fazenda. Mantega não era o que ela tinha em
mente. Seu desejo era nomear o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Foi o
presidente Lula quem a convenceu a manter o atual
ministro.
"Ela gosta do Guido, mas não tem paixão por ele",
conta um auxiliar de Dilma. Desde a campanha, no entanto, ela já desconfiava
de que Lula intercederia pelo ministro e que, se o fizesse, ela não deixaria
de atendê-lo. O presidente tanto fez que Dilma acabou se convencendo da
conveniência da decisão, segundo relatam assessores. "Com ele [Mantega], Dilma
teve a certeza de que é ela que vai mandar."
A confirmação de Mantega vazou à imprensa antes de
Dilma confirmar outros nomes da área econômica. Meirelles, que estava no
exterior, se sentiu desprestigiado. Poucos depois, saiu na imprensa uma
espécie de ultimato do presidente do BC, dando conta de que ele só ficaria no
cargo se tivesse autonomia. Dilma irritou-se com a suposta atitude de
Meirelles e mais ainda com o fato de ele não a ter desmentido a
tempo.
"O Meirelles demorou quase 72 horas para voltar
atrás. Agora, não corrige mais", sustentou, na ocasião, um ministro com acesso
à presidente eleita. Naquele momento, entrou em cena, como bombeiro, Antônio
Palocci, principal operador político de Dilma. O deputado conseguiu convencer
a presidente eleita a receber Meirelles. O horário foi inusual - meia-noite e
meia.
As preocupações de Palocci eram duas. A primeira era
apaziguar a relação entre os dois. A outra era evitar que Meirelles, frustrado
e zangado, se apresentasse dessa forma, no dia seguinte, em depoimento à
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O colóquio na Granja do Torto, uma
das residências oficiais da Presidência e onde Dilma reside desde a eleição,
foi até às 3h30 da madrugada. E cumpriu seu
objetivo.
O caso Meirelles revelou um outro traço da
personalidade da presidente eleita - a capacidade de perdoar. "Ela nos dá
broncas severas, mas depois as desfaz ou então nos trata no dia seguinte como
se nada tivesse acontecido", testemunha um auxiliar. O encontro com Meirelles
no Torto serviu não só para aparar arestas, mas também para reacender a
possibilidade de ele ainda integrar o ministério Dilma. Na semana passada, ela
tomou a iniciativa de chamar Meirelles para uma conversa demorada, num sofá do
Palácio da Alvorada, durante jantar oferecido por Lula aos atuais e aos
futuros ministros.
"Meirelles, continuo pensando em você", teria dito
Dilma, segundo relato de um ministro que ouviu parte da conversa. O plano da
presidente é nomeá-lo ou para a Secretaria Nacional da Aviação Civil, que ela
pretende tirar do Ministério da Defesa e vincular à presidência, ou para ser a
Autoridade Olímpica brasileira. O plano inicial era juntar aeroportos e portos
numa só Pasta, mas, como a negociação com o PSB tomou rumo inesperado, Dilma
desistiu da ideia. Alegando risco de caos aéreo no fim do ano, deixou os
aeroportos sob os cuidados da Defesa até a criação do novo
ministério.
O PSB foi outro capítulo revelador da maneira como a
presidente eleita atua politicamente. O partido, aliado de Lula desde a
campanha presidencial de 1989, saiu fortalecido das eleições. Elegeu seis
governadores e aumentou a bancada na Câmara. Além disso, teve os dois
governadores mais bem votados do país - Eduardo Campos (Pernambuco) e Renato
Casagrande (Espírito Santo).
A legenda foi para a negociação cheia de
expectativa, mas Dilma, desde o início, segundo relatos colhidos pelo Valor,
decidira que não lhe daria três ministérios. Antes de tomar qualquer decisão,
ela quis ouvir o ex-ministro Ciro Gomes, com quem desenvolveu, no ministério
de Lula, uma relação próxima desde o escândalo do mensalão, - Ciro ganhou
prestígio por ter atuado na linha de frente de defesa do
governo.
Dilma ouviu de Eduardo Campos que Ciro não gostaria
de ser ministro. A presidente quis falar com o próprio para confirmar a
negativa. Ao telefonar para ele, ao lado de Campos, escutou que a história não
era bem aquela. Deu a Ciro, então, alguns dias para tomar uma decisão. A
manobra diminuiu o ímpeto de Campos, principal liderança do PSB. No fim, o
partido ficou apenas com dois ministérios - Portos (sem aeroportos) e
Integração Nacional.
Um outro socialista - o senador Antônio Carlos
Valadares (SE) - sentiu na pele o rigor de Dilma. Valadares era cotado para o
ministério e, assim, abrir vaga para que seu primeiro suplente, o presidente
do PT, José Eduardo Dutra, assumisse seu mandato no Senado. Nas conversas
internas, cogitou-se entregar a Valadares uma nova Pasta - a das Pequenas e
Médias empresas. Valadares esnobou a oferta, arrependeu-se depois, mas já era
tarde. Dilma não tolerou seu comportamento. Resultado: nem ele seria mais
ministro nem o ministério seria criado.
Uma das dificuldades de Dilma foi lidar com
ex-colegas de ministério interessados em continuar ministros em sua gestão. O
caso mais dramático e constrangedor foi o do chanceler Celso Amorim. A
presidente já havia decidido que Amorim não ficaria, acenara para Antônio
Patriota há mais de ano, mas o chanceler não se conformava. Esperançoso, foi
repetidas vezes ao Palácio do Planalto pedir ajuda a Lula, que chegou a
comentar com um auxiliar: "O cara não se manca que o nosso tempo
acabou".
A presidente eleita organizou o período de transição
com uma preocupação central: não melindrar Lula. Ela desconfiava de que uma
exposição pública demasiada abriria espaço para a imprensa jogá-la contra
Lula. Por isso, recolheu-se à Granja Torto e de lá comandou a montagem do
ministério. Em 60 dias de transição, só quebrou essa regra uma única vez, para
dar entrevista ao jornal americano "The Washington Post". "Não vou sentar na
cadeira [de presidente] antes da hora", declarou ela mais de uma vez a
colaboradores.
Dilma tem noção exata do que o exercício da
presidência da República representa para Lula. Por essa razão, ficou
irritadíssima quando Guido Mantega anunciou que faria cortes em obras do PAC
previstas no orçamento de 2011. Na avaliação dela, Mantega falou não como
ministro de Lula, mas, sim, como seu ministro. Preocupada, convocou-o
imediatamente para uma conversa no Torto. O ministro acabou recebendo um carão
simultâneo: enquanto ouvia as queixas de Dilma, foi apanhado por um telefonema
ríspido de Lula, exigindo um desmentido.
O episódio só confirmou os temores da presidente
eleita. Até 31 de dezembro, o artista principal é Lula. "A partir de janeiro,
inverte-se o papel", diz um ministro amigo dos dois.
Liberada das aparições públicas, Dilma fez durante a
transição o que mais gosta - coordenar, gerir, dar ordens. "Ela ficou mais
parecida nesse momento com a Dilma real, focada na gestão, nas tarefas", conta
um assessor. Ali, começou também a transmutar-se, passando do papel de
ministra e candidata ao de presidente. Decidiu que só conversaria pessoalmente
com os expoentes de cada partido - no caso do PMDB, o vice-presidente eleito
Michel Temer e os senadores José Sarney e Renan Calheiros e Sérgio Cabral.
Agindo assim, recusou-se a atender o que seus auxiliares chamam de "segundo
escalão da política". "O Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara, por
exemplo", contou um interlocutor permanente.
"Na transição, ela começou a se comportar como
presidente. Ficou, por exemplo, mais cuidadosa com as conversas ao telefone",
relatou um auxiliar.
Dilma tem um estilo de trabalho bem distinto ao de
Lula. O presidente delonga-se em reuniões com ministros e auxiliares para
tomar decisões. Faz disso um processo coletivo. Seu gabinete no terceiro andar
do Planalto tem acesso franqueado a algumas pessoas. No fundo, Lula não gosta
de ficar sozinho. Já a presidente eleita aprecia trabalhar de forma solitária.
É quando se concentra para refletir antes de tomar
decisões.
A presidente eleita é uma pessoa reservada. Poucas
pessoas têm acesso a ela quanto seus dois secretários particulares André
Segatin e Anderson Dornelles. Os dois fazem e recebem ligações telefônicas,
consultam e respondem e-mails, carregam o laptop, o telefone celular e a mais
nova diversão da presidente eleita: um iPad, o tablet que ela usa
principalmente para ler livros virtuais.
O companheiro mais frequente durante a campanha e a
transição foi Palocci. O deputado atuou como intermediário junto aos partidos
aliados, tendo negociado intensamente com o PMDB, além de ter cumprido, sempre
nos bastidores, as missões políticas mais
espinhosas.
MEC proíbe 15 instituições de expandir vagas no ensino superior
ResponderExcluirQuinze instituições de ensino superior que tiveram avaliações ruins do Ministério da Educação nos últimos três anos estão impedidas de aumentar o número de vagas e de cursos.
A medida foi tomada com base no IGC (Índice Geral de Cursos), indicador que leva em conta a nota dos alunos no Enade (exame federal) e outros indicadores como infraestrutura e qualidade do corpo docente. Ela vale até a divulgação do próximo IGC, no ano que vem. O índice tem notas que vão de 1 a 5. São consideradas insatisfatórias as médias 1 e 2.
Veja abaixo a lista de instituições que não podem mais se expandir:
UniABC (Universidade do Grande ABC) - SP
UNIb (Universidade Ibirapuera) - SP
Unig (Universidae Iguaçu) - RJ
USU (Universidade Santa Úrsula) - RJ
Unirondon (Centro Universitário Cândido Rondon) - MT
UniverCidade (Centro Universitário da Cidade) - RJ
Unidesc (Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro-Oeste) - GO
Ciesa (Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas) - AM
Univag (Centro Universitário de Várzea Grande) - MT
Unorp (Centro Universitário do Norte Paulista) - SP
Unieuro (Centro Universitário Euro-Americano) - DF
MSB (Centro Universitário Moacy Sreder Bastos) - RJ
Uniplan (Centro Universitário Planalto do Distrito Federal) - DF
UniSant'Anna (Centro Universitário Sant'Anna) - SP
Ceulm/Ulbra (Centro Universitário Luterano de Manaus) - AM