21/08/2010
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Balaio do
Kotscho
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por Ricardo Kotscho
Antes
mesmo da divulgação do novo Datafolha na noite desta sexta-feira, com a
disparada de Dilma abrindo 17 pontos de vantagem sobre Serra (47 a 30), os tucanos já tinham
começado a temporada de caça aos culpados pelo desastre.
Como
já tinha acontecido nas derrotas de 2002 e 2006, a aliança demotucana
(PSDB-DEM-PPS-PTB) está se desmilinguindo, cada um colocando a culpa no outro e
todos responsabilizando o candidato, que está sendo largado pelo caminho
faltando ainda seis semanas para o primeiro turno das eleições de 2010.
O
colapso na campanha de Serra ficou evidente esta semana quando resolveu adotar
a esquisofrênica estratégia de atacar Dilma e o governo durante o dia e mostrar
imagens do presidente Lula ao lado do ex-governador paulista à noite. O
tucano conseguiu a proeza de não ser candidato nem da situação nem da oposição,
muito ao contrário.
Tamanha
lambança não pode ter apenas um culpado. Só pode ser resultado do conjunto da
obra da absoluta falta de unidade na aliança, da falta de um projeto político,
da escolha de um vice desconhecido e desastrado, da indigência dos discursos e
das propostas do candidato, do cheiro de mofo do programa de televisão.
O que
aconteceu? Apenas um mês atrás, o Datafolha de 20-23 de julho ainda anunciava
um empate técnico (37 a
36 para Serra), alimentando as esperanças de uma campanha que já vinha fazendo
água, como apontavam os outros institutos de pesquisas.
Não
aconteceu nada de importante para justificar esta violenta inversão da curva do
Datafolha. Como era de se esperar, o diretor do instituto, Mauro Paulino,
colocou a culpa no horário eleitoral que entrou no ar esta semana.
“Palco
da TV explica disparada de Dilma”, diz a manchete da Folha sobre a nova
pesquisa. Se é só isso, me desculpem, mas não dá para entender. Foram ao ar até
agora apenas dois programas dos candidatos à presidência da República, na terça
e na quinta, justamente quando os pesquisadores do Datafolha já estavam nas
ruas entrevistando os eleitores.
Ao
esconder sua principal liderança, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e
tentar, já no desespero, ligar sua imagem à de Lula, Serra comete o desatino de
não só não tirar votos de Dilma como o de perder aqueles dos tucanos mais
fiéis.
Na
marcha batida para o abismo, o candidato da oposição sofre mais com o fogo
amigo do que nos embates com sua principal adversária. Se nem o presidente do
PSDB, o pernambucano Sergio Guerra, quis usar a imagem do candidato tucano em
sua campanha para deputado federal, que tipo de fidelidade se poderia esperar
dos outros? Serra escondeu FHC e os candidatos da aliança demotucana esconderam
Serra.
É
verdade que o programa de Dilma, comandado por João Santana, dá de 10 a 0 no programa de Serra,
sob a responsabilidade de Luiz Gonzalez, tanto na forma como no conteúdo, mas
isso é muito pouco para explicar uma diferença tão grande entre uma
pesquisa e outra no espaço de apenas quatro semanas.
O que
tenho escrito aqui, desde o início da atual campanha eleitoral, não é muito
diferente do que leio em colunas e blogs não engajados, que procuram lidar
apenas com os fatos, não com os desejos. Depois de alguns atropelos no início,
como registrei aqui, a campanha de Dilma se aprumou, botou ordem no comando, no
discurso e na agenda, enquanto a de Serra se desmanchava no ar.
Não é
preciso ser nenhum gênio da política para constatar que, a esta altura do
campeonato, como o próprio Datafolha já admite, a eleição poderá ser decidida
no primeiro turno. A tendência natural é Dilma subir e Serra cair cada vez mais
até o dia 3 de outubro, por mais que alguns coleguinhas não se conformem com
isso e ainda se esforcem para negar o óbvio.
Encontrar
os culpados por esta situação adversa parece ser agora a única ocupação dos
apoiadores de uma campanha sem rumo, que pode jogar a oposição numa crise sem
precedentes. Já se sabia que seria difícil derrotar uma candidatura, qualquer
que fosse, apoiada pelo presidente Lula, com seus quase 80% de aprovação
popular, mas ninguém poderia prever que a corrida eleitoral se transformasse
neste passeio sem muitas emoções.
Há
muitas formas de se ganhar ou perder uma eleição. Serra escolheu a pior.
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