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domingo, 22 de agosto de 2010

Tucanos agora buscam culpados



21/08/2010 -
Balaio do Kotscho -

por Ricardo Kotscho
Antes mesmo da divulgação do novo Datafolha na noite desta sexta-feira, com a disparada de Dilma abrindo 17 pontos de vantagem sobre Serra (47 a 30), os tucanos já tinham começado a temporada de caça aos culpados pelo desastre.
Como já tinha acontecido nas derrotas de 2002 e 2006, a aliança demotucana (PSDB-DEM-PPS-PTB) está se desmilinguindo, cada um colocando a culpa no outro e todos responsabilizando o candidato, que está sendo largado pelo caminho faltando ainda seis semanas para o primeiro turno das eleições de 2010.
O colapso na campanha de Serra ficou evidente esta semana quando resolveu adotar a esquisofrênica estratégia de atacar Dilma e o governo durante o dia e mostrar imagens do presidente Lula ao lado do ex-governador paulista à noite.  O tucano conseguiu a proeza de não ser candidato nem da situação nem da oposição, muito ao contrário.
Tamanha lambança não pode ter apenas um culpado. Só pode ser resultado do conjunto da obra da absoluta falta de unidade na aliança, da falta de um projeto político, da escolha de um vice desconhecido e desastrado, da indigência dos discursos e das propostas do candidato, do cheiro de mofo do programa de televisão.
O que aconteceu? Apenas um mês atrás, o Datafolha de 20-23 de julho ainda anunciava um empate técnico (37 a 36 para Serra), alimentando as esperanças de uma campanha que já vinha fazendo água, como apontavam os outros institutos de pesquisas.
Não aconteceu nada de importante para justificar esta violenta inversão da curva do Datafolha. Como era de se esperar, o diretor do instituto, Mauro Paulino, colocou a culpa no horário eleitoral que entrou no ar esta semana.
“Palco da TV explica disparada de Dilma”, diz a manchete da Folha sobre a nova pesquisa. Se é só isso, me desculpem, mas não dá para entender. Foram ao ar até agora apenas dois programas dos candidatos à presidência da República, na terça e na quinta, justamente quando os pesquisadores do Datafolha já estavam nas ruas entrevistando os eleitores.
Ao esconder sua principal liderança, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e tentar, já no desespero, ligar sua imagem à de Lula, Serra comete o desatino de não só não tirar votos de Dilma como o de perder aqueles dos tucanos mais fiéis.
Na marcha batida para o abismo, o candidato da oposição sofre mais com o fogo amigo do que nos embates com sua principal adversária. Se nem o presidente do PSDB, o pernambucano Sergio Guerra, quis usar a imagem do candidato tucano em sua campanha para deputado federal, que tipo de fidelidade se poderia esperar dos outros? Serra escondeu FHC e os candidatos da aliança demotucana esconderam Serra.
É verdade que o programa de Dilma, comandado por João Santana, dá de 10 a 0 no programa de Serra, sob a responsabilidade de Luiz Gonzalez, tanto na forma como no conteúdo, mas isso  é muito pouco para explicar uma diferença tão grande entre uma pesquisa e outra no espaço de apenas quatro semanas.
O que tenho escrito aqui, desde o início da atual campanha eleitoral, não é muito diferente do que leio em colunas e blogs não engajados, que procuram lidar apenas com os fatos, não com os desejos. Depois de alguns atropelos no início, como registrei aqui, a campanha de Dilma se aprumou, botou ordem no comando, no discurso e na agenda, enquanto a de Serra se desmanchava no ar.
Não é preciso ser nenhum gênio da política para constatar que, a esta altura do campeonato, como o próprio Datafolha já admite, a eleição poderá ser decidida no primeiro turno. A tendência natural é Dilma subir e Serra cair cada vez mais até o dia 3 de outubro, por mais que alguns coleguinhas não se conformem com isso e ainda se esforcem para negar o óbvio. 
Encontrar os culpados por esta situação adversa parece ser agora a única ocupação dos apoiadores de uma campanha sem rumo, que pode jogar a oposição numa crise sem precedentes. Já se sabia que seria difícil derrotar uma candidatura, qualquer que fosse, apoiada pelo presidente Lula, com seus quase 80% de aprovação popular, mas ninguém poderia prever que a corrida eleitoral se transformasse neste passeio sem muitas emoções.
Há muitas formas de se ganhar ou perder uma eleição. Serra escolheu a pior.

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