CARLOS
AUGUSTO MONTENEGRO - Presidente do Ibope
Presidente
do Ibope admite que errou ao prever que Lula não faria o sucessor
e
diz que Dilma Rousseff será eleita no primeiro turno
Há exatamente um ano, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro,
declarou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não faria o sucessor,
apesar da alta popularidade. Na ocasião, o responsável por um dos mais
tradicionais institutos de pesquisas do País assegurava que o presidente não
conseguiria transferir seu prestígio pessoal para um “poste”, como tratava a
ex-ministra Dilma Rousseff. Agora, a um mês das eleições e respaldado por
números apresentados em pesquisas diárias, Montenegro faz um mea-culpa. “Errei
e peço desculpas. Na vida, às vezes, você se engana”, afirmou. “O Brasil já tem
uma presidente. É Dilma Rousseff.” Segundo Montenegro, a ex-ministra da Casa
Civil vem se conduzindo de forma convincente e confirma, na prática, o que o
presidente disse sobre ela na histórica entrevista concedida à ISTOÉ na
primeira semana de agosto: “Lula acertou. Dilma é um animal político. Está
mostrando muito mais capacidade do que os adversários.”
O tucano José Serra, na opinião do presidente do Ibope, faz uma campanha
sem novidade, velha e antiga. “O PSDB está perdido”, assegura. Neste fim de
semana, o Ibope vai divulgar uma nova pesquisa, que confirmará a categórica
vantagem da petista. Fazemos pesquisas diárias. E Dilma não para de crescer.
Abriu 20 pontos em Minas, onde Serra já esteve na frente. Empatou em São Paulo,
mas ali também vai passar. Essa eleição acabou”, conclui Montenegro.
A entrevista:
Istoé - O sr. disse que o
presidente Lula não conseguiria transferir seu prestígio para a ex-ministra
Dilma Rousseff, mas as pesquisas mostram o contrário. O sr. ainda sustenta que
o presidente não fará o sucessor?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Eu nunca vi, em quase 40 anos de Ibope,
uma mudança na curva, como aconteceu nesta eleição, reverter de novo. Por mais
que ainda faltem 30 e poucos dias para a eleição, o Brasil já tem uma
presidente. É Dilma Rousseff. Ela tem 80% de chances de resolver a eleição no
primeiro turno. Mas, se não for eleita agora, será no segundo turno.
Istoé - A que o sr. atribui essa virada?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Houve uma série de fatores. Primeiro a
transferência do Lula, que realmente vai sair como o melhor presidente do
Brasil. Um pouco acima até do patamar de Getúlio Vargas e de Juscelino
Kubitschek. O segundo ponto é o preparo da candidata Dilma. Ela tem mostrado
capacidade de gestão, equilíbrio, tranquilidade e firmeza. A terceira razão é seu
bom desempenho na televisão, inclusive nos debates e entrevistas. Lula acertou
ao dizer, em entrevista à ISTOÉ, que ela era um animal político. Está mostrando
muito mais capacidade que os adversários e mostra que tem preparo para ser
presidente.
Istoé - Mas há um ano o sr. declarou que Lula dificilmente faria o sucessor.
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Errei. Eu dizia de uma forma clara que,
apesar de o Lula estar bem, ele não elegeria um poste. Foi uma declaração
extemporânea, descuidada e muito mais fundamentada num pensamento político do
que com base em pesquisas. Foi um pensamento meu. Acho que eu tinha o direito
de pensar daquela forma, mas não tinha o direito de tornar público. Peço
desculpas. Na vida, às vezes, você se engana.
Istoé - O que mais o surpreendeu desde o momento do lançamento das candidaturas?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - A oposição errou e essa é a quarta razão
para o sucesso de Dilma. A campanha do Serra está velha e antiga. Não tem
novidade. O PSDB repete 2002 e 2006. Está transmitindo para o eleitor uma coisa
envelhecida. Vejo um despreparo total. O PSDB está perdido, da mesma forma que
o Lula ficou nas eleições de 1994 e 1998 contra o Plano Real. Na ocasião, ele
não sabia se criticava ou se apoiava e perdeu duas eleições.
Istoé - O bom momento da economia, a geração de empregos e o consumo em alta não
fazem do governo Lula um cabo eleitoral imbatível?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Essa, para mim, é a razão principal. O
Brasil nunca viveu um momento tão bom. E as pessoas estão com medo de perder
esse momento. O Plano Real acabou derrotando o Lula duas vezes. Mas o Lula, com
o governo dele, sem querer ou por querer, acabou criando um plano que eu chamo
de imperial. É o império do bem, em que cerca de 80% a 90% das pessoas pelo
menos subiram um degrau. Quem não comia passou a comer uma refeição por dia,
quem comia uma refeição passou a fazer duas, quem nunca teve crédito passou a
ter crédito, quem andava a pé passou a andar de bicicleta ou moto, quem tinha
carro comprou um mais novo e quem nunca viajou de avião passou a viajar. Os
industriais também estão felizes, vendendo o que nunca venderam. Os banqueiros
idem.
Istoé - Mas esse fator não pesou logo de início, quando os candidatos lançaram
os seus nomes e Serra permaneceu vários meses na frente.
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - No início, houve transferência do Lula.
Mas, de uns três meses para cá, o Lula está associando o êxito dele ao êxito do
governo como um todo. E está mostrando que Dilma é a gestora desse governo. O
braço direito dele. E as pessoas estão confiantes nisso e não estão querendo
perder o que ganharam.
Istoé - É possível dizer então que o programa de tevê do PT é mais eficiente
do que o da oposição?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - A tevê ajudou na consolidação. Mas a virada
de Dilma Rousseff na corrida para presidente da República se deu antes da tevê.
Pelo menos antes do horário eleitoral gratuito.
Istoé - Isso derruba o mito de que o programa eleitoral é capaz de virar a
eleição?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Quando a eleição é disputada por candidatos
pouco conhecidos, ele pode ser decisivo, sim. Por exemplo, a televisão está
ajudando a eleição de Minas Gerais a se tornar mais dura. O Aécio está entrando
agora, o Anastasia é o governador e eles estão mostrando as realizações do
governo. Por isso, o Anastasia está crescendo. O Hélio Costa largou na frente
porque já era uma pessoa muito mais conhecida do que o Anastasia. Mas, quando
você pega uma eleição em que todos os candidatos são bem conhecidos, o uso da
tevê é muito mais de manutenção e preenchimento do que para proporcionar uma
virada.
Istoé - E os debates? Eles podem mudar a eleição?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Só se houvesse um desastre. Cada eleitor
acha que o seu candidato teve desempenho melhor. Vai ouvir o que está querendo
ouvir. Já conhece as propostas anunciadas durante a propaganda eleitoral.
Falando especificamente dessa eleição presidencial, repito que a população está
de bem com a vida. Quer continuar esse bom momento. O Brasil quer Dilma
presidente.
Istoé - A candidatura de Marina Silva não tem força para levar a eleição até o
segundo turno?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Cada vez mais a vitória de Dilma no
primeiro turno fica cristalizada. Temos pesquisas diárias que mostram que essa
eleição presidencial acabou. Agora, mais uma vez, o Brasil está dando um show
de democracia. É bom dizer que os três principais candidatos são excelentes.
Todos têm passado político, currículo e história. A história da Marina Silva,
por exemplo, é maravilhosa. A luta dela pelo meio ambiente é muito importante.
Mas a Marina até outro dia estava com Lula e as pessoas a relacionam com o
presidente. Você pega a luta do Serra e ela também é fantástica. E o Serra, até
outro dia, também estava no palanque do Lula, na luta contra a ditadura.
Istoé - O fato de Dilma nunca ter disputado uma eleição não deveria pesar a
favor de José Serra?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - No Chile, Michele Bachelet tinha 80% de
aprovação, mas não conseguiu fazer o sucessor. Por quê? Porque ele tinha
passado. Já tinha concorrido. Quando você concorre, você pega experiência por
um lado, mas a pessoa deixa de ser virgem, politicamente falando. Sempre há
brigas que você tem que comprar e vem a rejeição. No caso da Dilma, o fato de
ela nunca ter concorrido, ter sido sempre uma gestora, uma técnica, precisando
só exercitar o seu lado político, ajudou muito.
Istoé - Em que medida o fato de Dilma ser mulher a ajudou nessas eleições?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Acho que não ajudou muito. Mas é algo
diferente. O Brasil já tem implementado coisas novas na política, como foi a
eleição de um sindicalista. É um fato interessante, mas a competência do Lula e
da Dilma ajudaram muito mais.
Istoé - O atabalhoado processo de escolha do vice na chapa do PSDB prejudicou a
candidatura de José Serra?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Não. Nunca vi vice ganhar eleição. Nem perder.
Istoé - O sr. acredita que Lula possa puxar votos para candidatos do PT nos
Estados, como em São Paulo, por exemplo?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Acho muito difícil. O Lula tinha toda essa
popularidade em 2008, apoiou a Marta e ela perdeu do Gilberto Kassab, que
estava fazendo uma boa administração.
Istoé - Dilma eleita, qual a saída para a oposição?
CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO - Está provado que o modelo da oposição não
deu certo. Talvez ganhe em alguns Estados importantes, como São Paulo, Minas,
Paraná e Goiás. Sempre terá um papel importante. Mas essa eleição mostra que
está na hora de uma reforma política. É preciso diminuir o número de partidos.
Os programas partidários também precisam ser mais respeitados. Os partidos são
os pilares da democracia.
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