Tamires Gomes Sampaio, 20 anos, frequenta escolas públicas desde que a mãe a deixava na creche, com poucos meses de vida. Sua realidade começou a mudar quando ingressou em uma das mais tradicionais universidades de São Paulo, o Mackenzie. Negra, moradora da periferia e beneficiária do Programa Universidade para Todos (Prouni), Tamires agora é aluna do curso de Direito e recentemente foi eleita presidente do Centro Acadêmico do curso.
“Quando eu decidi fazer Direito, minha mãe me incentivou a procurar as melhores universidades: ou USP, ou PUC ou Mackenzie, que são as três maiores faculdades de Direito de São Paulo. Ela fez um empréstimo para me ajudar a pagar um cursinho. Tentei a Fuvest, mas não consegui passar da primeira fase, porque a universidade pública é excludente e o próprio processo seletivo não é feito para quem é de periferia, para quem estudou a vida inteira em escola pública, que tem um ensino de baixa qualidade e mesmo com o cursinho eu não consegui superar essa defasagem de uma vida inteira”, analisa.
Já na faculdade, Tamires e outros colegas começaram a participar de grupos de discussão e a questão da inclusão social e o combate às desigualdades começou a tomar conta dos debates. Foi o embrião de um coletivo chamado Frente Perspectiva, que este ano resolveu fundar uma chapa e concorrer às eleições extraordinárias para o Centro Acadêmico. O nome de Tamires foi consenso entre os integrantes.
“Como a gente é um coletivo que se propõe ao combate às opressões na universidade: o combate ao machismo, ao racismo, à questão da classe social, a gente quis representar e reproduzir isso na nossa chapa também, então por que não colocar uma mulher, negra, prounista, como a diretora geral da chapa?”, lembra.
Ela diz que o fato da chapa ter saído vencedora demonstra um movimento de mudanças na realidade da instituição. “Talvez essas políticas de inclusão estejam transformando o Mackenzie e esse histórico conservador. Acho que o Prouni, o Fies, as bolsas, eles conseguem fazer isso em uma universidade que era até então elitista e conservadora. Com a entrada dos negros, dos pobres, de quem estudou em escola pública, ela vai mudar o que se produz e a forma de pensar ali dentro”, afirma.
Tamires quer conquistar mais. Não quer mais se sentir uma “estranha no ninho”, em um lugar em que os negros ainda são minoria. Quer usar o Direito para transformar a realidade em que vive. Quer ser professora universitária. “Eu queria uma profissão e um curso em que eu pudesse transformar a realidade social e encontrei no Direito a possibilidade disso,” diz.
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