Por Elvino
Bohn Gass na Carta Maior
Aos petistas
interessa que os episódios do que se convencionou chamar, retoricamente
(conforme o próprio inventor do termo), de mensalão, sejam julgados. A
permanência do falatório acerca deste assunto só serve aos adversários do PT
que, confrontados com os governos muito bem sucedidos de Lula e Dilma, há anos
perderam a linha. E a compostura.
Eles sabem. O que se
chamou de mensalão foi uma prática inaugurada por um dos seus (o tucano
Azeredo, em Minas). Mas sabem, também, que em caso de condenação de um petista,
a foto deste é que estampará a capa da revista Veja. Provavelmente ilustrado
com chifres e fumaça nas ventas.
A ideia que preside
a tática antipetista é simples: é preciso diminuir a força do PT. Porque o PT
tem Dilma e o governo federal mais bem avaliado da história, a maior e uma das
mais qualificadas bancadas do Congresso e é o partido preferido dos
brasileiros. Como se isso não bastasse, às vésperas de mais uma eleição
municipal, investigações da Polícia Federal provam que alguns dos maiores acusadores
do PT fazem parte de um esquema criminoso que reúne corrupção, lavagem de
dinheiro, formação de quadrilha e outros malfeitos. Encurralados, PSDB, DEM,
PPS e outros ainda menores, precisam arranjar um jeito de tentar jogar o PT no
vento – e o julgamento do dito mensalão parece ser o sopro da hora.
As investigações da
PF já prenderam Carlos Cachoeira, o bicheiro a quem o líder do Democratas,
senador Demóstenes, servia como um office-boy. Demóstenes era apontado pela
revista Veja como um dos ícones éticos do Senado e mais forte acusador do PT.
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça também comprometem seriamente o
governador tucano Marconi Perillo, com quem Cachoeira negociou uma mansão e
cuja Chefia de Gabinete utilizava um telefone “à prova de grampos”, presenteado
pelo bicheiro. Demóstenes, Perillo, o desespero só aumenta. Até porque, há uma
CPI em andamento no Congresso com potencial para estabelecer a
responsabilidades políticas, cassar mandatos e desmontar de um esquema
criminoso do, qual se beneficiaram os oposicionistas do PT. E quem conhece,
sabe: o PT irá até o fim nesta investigação.
É neste contexto de
desespero oposicionista que se insere um episódio tardio, a conversa entre o
ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes presenciada pelo ex-ministro
Nelson Jobim. Dos três personagens do encontro, dois – Lula e Jobim – dizem a
mesma coisa: não houve qualquer pressão para que se adiasse o julgamento do
mensalão. O terceiro, Mendes, insinua que foi pressionado. Não por acaso, a insinuação
vira manchete da revista Veja.
Logo Veja, que
centenas de vezes moldou fatos, inventou dossiês, usou fontes suspeitas, sempre
contra o PT.
Mas quem é Mendes e
qual o papel de Veja em tudo isso? Mendes é o homem para quem um outro ministro
do Supremo, Joaquim Barbosa, disse: -Vossa Excelência não está nas ruas, está
na mídia destruindo a Justiça desse país. Me respeite porque o senhor não está
falando com seus capangas do Mato Grosso”. Capangas? Um ministro do Supremo com
capangas? Reportagem da revista Carta Capital explica a afirmação do ministro
Barbosa: “Nas campanhas de 2000 e 2004, Gilmar (Mendes), primeiro como
advogado–geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso e depois como juiz
da Corte, não poupou esforços para eleger o caçula da família (Chico) prefeito
de Diamantino, município a 208 km de Cuiabá/Mato Grosso… circulou pelos bairros
da cidade, cercado de seguranças, para intimidar a oposição…” Para registro: o
irmão do ministro é do PPS.
Sobre Mendes, vale
lembrar que viajou várias vezes com Demóstenes, de quem era um dos
interlocutores prediletos. A relação entre ambos é forte. E vem de longe.
Tome-se, por exemplo, o ano de 2008, quando Mendes presidia o Supremo. Naquele
ano, a Polícia Federal já estava chegando perto de Cachoeira. De repente, vem a
revista Veja (Veja, sempre Veja) e traz uma notícia “bombástica”: o Supremo
está sendo espionado. As fontes? Demóstenes e Gilmar Mendes. Nunca houve um
áudio sequer que desse crédito ao grampo. Entretanto, Veja fez manchete. Mas
justificado pelas suspeitas nunca provadas de que estaria sendo espionado,
Mendes contrata para ser seu consultor de contra-espionagem, um ex-agente da
ABIN chamado Jairo Martins. Sabem que é Jairo Martins? Ele mesmo, o homem
apontado pela Polícia como um dos principais operadores do esquema de…
Cachoeira, o araponga do bicheiro. Não por acaso, em Brasília, já se diz que
entre Cachoeira e Mendes há pelo menos um dado comum incontestável: ambos
utilizavam o mesmo personal-araponga. Seria risível se não fosse tão revelador.
Há mais: Mendes foi o ministro que concedeu o discutível habeas corpus ao
banqueiro Daniel Dantas num inesperado final de semana. Dantas… sim, a fonte a
quem a revista Veja (olha a Veja aí de novo) deu crédito na história do
estapafúrdio dossiê que revelaria contas de figurões da República no exterior,
Lula entre eles. Jamais comprovado porque absolutamente forjado, o dossiê
desapareceu das páginas da revista.
Pois é, esta é a
Veja. Uma publicação que manteve relações tão estreitas com Cachoeira que este
determinava até em qual espaço da revista suas “informações” deveriam ser
publicadas. É diretor de Veja o jornalista que manteve centenas de telefonemas
com Cachoeira e que das informações dele se servia para atacar o governo do PT.
Veja é, portanto, o veículo de imprensa que melhor conhecia o modus operandi de
Cachoeira. No entanto, jamais o denunciou. Repito: jamais o denunciou! Muito se
poderia dizer ainda sobre Veja, mas fique-se com a fala de Ciro Gomes, um
aliado de Dilma mas um crítico do PT: “Todo mundo sabe que a revista Veja tem
lado. Todo mundo sabe que a revista Veja é a folha da canalhocracia brasileira.
É ali que o baronato brasileiro explora o moralismo a serviço da imoralidade”.
Veja, a revista que
mais ataca o PT, perdeu sua principal fonte oficial – Demóstenes – e sua
principal fonte não-oficial – Cachoeira. Restou-lhe tentar um último golpe:
atacar Lula, o maior símbolo petista. E a escolha de Gilmar Mendes para o
serviço faz todo o sentido neste verdadeiro conluio de desesperados.
Elvino Bohn
Gass é Deputado Federal PT/RS, Secretário Nacional Agrário e vice-líder da
bancada do PT na Câmara.
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