Em artigo para o portal da Band intitulado “Sinal verde para a
verticalização total das telecomunicações”, a jornalista Mariana Mazza
denuncia o movimento feito pela Anatel para pôr em prática a proposta do
conselheiro diretor Jarbas Valente, de criação da licença única, um
tipo de regulação que permitirá às empresas de telecomunicações
prestarem qualquer tipo de serviço — telefonia fixa, móvel, banda larga e
TV por assinatura — em um modelo de liberdade total.
Na verdade, a licença única, é nada mais, nada menos, do que
uma estratégia que vem sendo traçada pelas empresas para se livrarem do
único serviço prestado em regime público: o STFC (telefonia fixa).
O
sinal verde foi dado no dia 27 de setembro quando o Conselho Diretor da
Anatel aprovou a unificação, sob um mesmo CNPJ, das empresas da
Sercomtel, a menor concessionária de telefonia fixa do país, localizada
em Londrina - Paraná. Um primeiro passo que já desencadeou o movimento
das grandes concessionárias - Oi, Telefônica e Embratel – a começar pela
Telefônica.
Não é coincidência que esse processo esteja
ocorrendo alguns meses depois que Valente defendeu publicamente, no 29º
encontro Tele.Síntese, a criação de “um novo serviço convergente, o qual
compreenderia os atuais serviços de telecomunicações (STFC, SMP, SME,
SCM, SeAC), no regime privado e que permita a migração [para o regime
privado] do STFC prestado em regime público.”
A outorga do
serviço convergente - Serviço de Rede de Banda Larga - acaba com o
regime público, que é uma das principais reivindicações da sociedade
civil, política defendida intensamente pelo Instituto Telecom.
No
momento em que Jarbas Valente apresentou a proposta, a exemplo de
várias entidades da sociedade civil, avaliamos que tratava-se de um
balão de ensaio, sem maiores consequências no cenário das
telecomunicações. Lamentavelmente, não é o que está acontecendo. Mais
uma vez o governo parece ter escolhido o caminho contrário ao interesse
público de universalização das telecomunicações.
Enquanto o
Ministério das Comunicações se nega a discutir com a sociedade civil um
novo modelo para as nossas telecomunicações, a Anatel enfraquece as
concessões, dando legalidade a uma situação que as concessionárias já
vêm executando. Como afirma acertadamente Mariana Mazza, “o grande
problema de toda esta história é que, pouco a pouco, a concessão pública
vai desaparecendo nesse mar de 'modernidades' ”.
Primeiro a
unificação de todas as operações sobre um mesmo CNPJ. Depois, a criação
da licença única para todos os serviços em regime privado. E, logo após,
o verdadeiro extermínio do que resta de regime público, o fim do STFC.
Neste ritmo, as concessões terminariam antes mesmo de 2025 e ao Estado
restaria uma rede sucateada.
Esta é uma prática ilegal. O artigo
65 parágrafo 1º da LGT deixa claro que “não serão deixadas à exploração
apenas em regime privado as modalidades de serviços de interesse
coletivo que, sendo essenciais, estejam sujeitas a deveres de
universalização”. É justamente o que a Anatel quer atropelar.
O
Instituto Telecom considera todo esse quadro gravíssimo e cobra um
posicionamento público tanto da Anatel como do Ministério das
Comunicações.
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