Recebi do Beatrice
Vou tocar num tema difícil e deixa
claro que o faço em meu nome pessoal, sem que tenha conversado ou sequer avisado
o titular deste blog. Portanto, os que quiserem condenar o que digo, que
condenem a mim, apenas.
E faço isso porque o convívio de mais
de duas décadas com Leonel Brizola e com a administração pública me fez ver
quanto é difícil ser honesto e como é quase impossível parecer honesto, mesmo
que você o seja. E, claro, como é simples ser desonesto, se você vê na vida
pública o caminho da fartura que, positivamente, nela não existe para quem a
exerce com princípios e, sobretudo, com causas.
A saída do PR da base governista não é
um desastre irreparável, mas é muito ruim. Não para o Governo Dilma, apenas, mas
para o país. Uma crise com o PMDB, sim é que seria um desastre irreparável.
Menos mal que a indicação do deputado Mendes Ribeiro – a quem já tive
oportunidade de me referir
aqui – para ocupar o Ministério da Agricultura é sólida e
muito bem vinda.
Mas algumas verdades devem ser
ditas.
Não temos um Congresso de esquerda.
Quando muito, poderíamos, com muito boa vontade, dizer que temos um terço do
Congresso ideologicamente de esquerda.
É verdade que, da mesma forma, não
temos um Congresso ideologicamente aferrado – embora seja mais fácil ser
simpático ao que toda a mídia diz – às posições neoliberais, aliás não temos nem
mesmo um terço dele assim.
Mas temos um Congresso patrimonialista,
material e politicamente falando. Que quer “espaços” políticos que eternizem o
grande patrimônio dos deputados e senadores: os seus
mandatos.
Isso não quer dizer – e não pode querer
dizer – pactuar com a corrupção que, eventualmente, possa ocorrer. Mas a ponte,
a obra, o asfalto, a estrada vicinal, o atendimento a pleitos locais são moeda
política real e histórica. Desde que sejam ações necessárias, benéficas à
população e realizadas sem desvios de recursos, não trazem mal ao país, nem à
população. Ao contrário, até refletem a capacidade de pressão política legítima
que seus representantes podem e devem fazer, num sistema político em que “as
bases” são formadas assim.
É curioso que a direita, até, cobre aos
parlamentares que se dediquem mais a estas questões locais, tanto que prega o
voto distrital.
Outra coisa bem diferente é que estes
“espaços” se prestem à corrupção e ao enriquecimento pessoal. Evitar que isso
aconteça é papel das instituições republicanas de controle, que sempre tiveram,
seja no Governo Lula, seja no atual, ampla liberdade de atuação e respaldo em
suas ações, dentro da lei, e com independência.
Um Presidente da República não é um
“xerife”. É um condutor, um agregador, um líder que encaminha vontades
diferentes dentro de um caminho comum.
Que o Governo precisa de maioria, e que
essa maioria não virá automaticamente é algo que ficou bem claro na votação do
Código Florestal.
Não será, também, a mídia que a
formará, a não ser para destruir a liderança progressista que nos custou décadas
a formar. Muito menos virá da oposição o apoio sincero à ação ética e
moralizadora.
É preciso ser firme, mas também
extremamente cuidadoso. A administração pública deve funcionar na sua
plenitude.
A Presidenta tem toda a razão em dizer
que onde há corrupção, há ineficiência.
Ao exigir-se eficiência, compromisso,
efetividade das ações, cumprimento de prazos, prática de valores módicos e
austeridade, então, é que se estará evitando e reduzindo a
corrupção.
Mas cruzadas
moralistas não são moralizantes. São, sim,
paralisantes.
E não há maior crime, não há mesmo, do
que permitir que se paralise o grande processo de transformação do Brasil que
está em curso.
Os conselheiros da Presidenta deveriam
perceber que colocaram, como aprendizes de feiticeiros, um caldeirão em
ebulição. Com fatos ou sem fatos que o justifiquem, tudo agora é
suspeito.
Por sorte a Presidenta não é aprendiz.
Ao contrário, aprendeu muito, ela própria, ajudando a tirar o Governo de Lula
desta armadilha.
E saberá, muito bem, tirar a si própria
do caminho em que tentam leva-la, restabelecer a solidez da base aliada e usar a
maioria de que dispõe para fazer as transformações que, estas sim, definirão a
sorte de seu Governo.
Porque o sucesso do marketing é fugaz,
e o dos atos, perene.
Ter desejos de justiça e progresso é
grandeza. Fazer justiça e progresso, mantendo o olhar nos horizontes, em meio às
vicissitudes da política é enormidade de ser estadista.
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