NOTA DO BLOGUEIRO:
Recebi essa matéria e me sinto na obrigação de
repassa-la, pois é um chamado a reflexão de alunos e mestres, temos que trabalhar
estudar com afinco, pois espaços existem e estão sendo ocupados por estrangeiros,
tudo bem, mas esse espaço é nosso. Dos
brasileiros, precisamos recupera-lo.
13/08/2011 -
The New York Times -
Simon Romero - Myrna Domit, em São Paulo, contribuiu com reportagem.
Refletindo
sobre as tempestades financeiras que açoitam a Europa e os Estados
Unidos, Seth Zalkin, um banqueiro americano vestido de modo casual,
bebia em uma pequena xícara e parecia contente com sua decisão de se
mudar para cá em março, juntamente com sua esposa e filho.
“Se o resto do mundo está indo para o buraco, este é um bom lugar para se estar”, disse Zalkin, 39 anos.
Para
aqueles com mesmo uma vaga lembrança da própria crise da dívida do
Brasil nos anos 80, a ordem global parece ter virado de cabeça para
baixo. A economia americana pode estar rastejando, mas o Brasil
apresentou sua maior taxa de crescimento em mais de duas décadas no ano
passado e o desemprego está em níveis baixos recordes, parte da
transformação do país de uma pilha de nervos inflacionária em um dos
principais credores de Washington.
Com salários
rivalizando os de Wall Street, tantos banqueiros, administradores de
fundo hedge, executivos do petróleo, advogados e engenheiros
estrangeiros se mudaram para cá que os preços dos espaços de ponta para
escritórios ultrapassaram os de Nova York neste ano, tornando o Rio uma
das cidades mais caras para se alugar nas Américas, segundo a
imobiliária Cushman & Wakefield.
A mentalidade de
corrida do ouro está a pleno vapor, com os pedidos de permissão de
trabalho para estrangeiros aumentando 144% nos últimos cinco anos e os
americanos liderando o grupo de profissionais com ensino superior
disputando seu espaço.
Empresários há muito são atraídos
pelo Brasil, juntamente com homens com desejo de enriquecer rapidamente,
sonhadores com a grandeza do Amazonas e até mesmo fora-da-lei como
Ronald Biggs, o inglês que fugiu para cá após o Grande Roubo de Trem de
1963.
Mas agora as escolas que atendem aos americanos e
outras famílias de língua inglesa apresentam longas listas de espera, os
apartamentos podem custar US$ 10 mil por mês em áreas nobres do Rio e
muitos dos recém-chegados possuem diplomas da elite das universidades
americanas ou experiência de trabalho nos pilares da economia global.
Assim
que chegam aqui, eles encontram um país diante de um desafio muito
diferente do que os Estados Unidos e a Europa: temores de que a economia
esteja aquecida demais.
Um choque em particular para os
recém-chegados é a força da moeda brasileira, o real. Isso pode ajudar
muitos brasileiros a comprar apartamentos em lugares como South Beach,
em Miami, onde as propriedades custam aproximadamente um terço de suas
equivalentes nos bairros nobres do Rio. Mas também prejudica a indústria
e os exportadores do país.
Assim, em uma tentativa de
impedir uma valorização ainda maior, o Brasil atualmente é um dos
maiores compradores de títulos do Tesouro americano, tornando-se um
grande credor da economia americana em dificuldades. Isso representa uma
grande mudança em relação ao passado, quando Washington ajudava a
elaborar pacotes de resgate para as crises financeiras do Brasil.
“O
Brasil está indo muito bem, mas, honestamente, toda semana eu me
pergunto: ‘Quando isto vai acabar?’” disse Mark Bures, um executivo
americano de 42 anos que se mudou para cá em 1999, a tempo de ver uma
desvalorização abrupta da moeda e outras fortes oscilações na sorte do
Brasil.
Alguns poucos americanos veteranos até mesmo se
lembram do último “milagre” econômico do Brasil, no início dos anos 70,
quando o “The Wall Street Journal” citou um banqueiro entusiasmado no
início de um artigo de primeira página, que previu: “Em 10 anos, o
Brasil será uma das cinco maiores potências do mundo”. Em vez disso, o
país acabou com níveis intimidantes de dívida externa.
O
recente boom dos commodities e o crescimento do consumo doméstico,
resultado do crescimento da classe média, ajudou a transformar o Brasil
em uma potência em ascensão, que se recuperou facilmente da crise
financeira global de 2008. A economia cresceu 7,5% no ano passado e
deverá registrar um crescimento de 4% neste ano –menor, mas ainda assim
invejável nos Estados Unidos.
Mas o Brasil oferece muitos
desafios aos recém-chegados. A legislação trabalhista favorece a
contratação de brasileiros em vez de estrangeiros, e o demorado processo
de obtenção do visto de trabalho pode surpreender aqueles
desacostumados à imensa burocracia brasileira.
Alguns
economistas consideram o real brasileiro como sendo a moeda mais
sobrevalorizada do mundo frente ao dólar e a inflação está subindo (como
fica evidente pelos Big Macs a US$ 6,16 e martinis a US$ 35). As taxas
de juros permanecem teimosamente altas e os analistas debatem se uma
bolha de crédito está se formando, à medida que os consumidores
continuam comprando de tudo, de casas a carros, em financiamentos de
muitos anos.
O Brasil não está imune à turbulência nos
mercados globais e sua moeda enfraqueceu um pouco neste mês. Os imóveis
no Rio estão em alta à medida que a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos
Olímpicos de 2016 se aproximam, mas sua infraestrutura é inadequada. O
crime violento, apesar de em queda em algumas áreas, atormenta grandes
partes do país e o Rio, que passou por um sequestro traumático de ônibus
neste mês.
Mesmo assim os estrangeiros continuam chegando, e
os vistos de trabalho para eles saltaram mais de 30% apenas em 2010,
segundo o Ministério do Trabalho.
“Meu português era muito
básico, mas dava para ver que havia um boom aqui”, disse Michelle Noyes,
uma nova-iorquina de 29 anos que organizou uma conferência de fundo
hedge em São Paulo. Logo depois, ela se mudou para o Brasil, para um
emprego em uma firma de gestão de ativos em São Paulo.
“Eu me
mudei da periferia do setor para o centro”, disse Noyes, citando cinco
outros americanos, dois de Nova York e três de Chicago, que estão se
mudando para o Brasil neste mês para arriscar sua sorte.
Os
americanos formam o maior grupo em mudança para cá, seguidos por
britânicos e outros europeus. Alguns possuem trabalhos temporários.
Outros estão abrindo empreendimentos grandes e pequenos.
David
Neeleman, o fundador americano da JetBlue Airways, criou recentemente a
Azul, uma companhia aérea de baixo custo brasileira. Corrado Varoli, um
italiano que supervisionou as operações latino-americanas do Goldman
Sachs em Nova York, agora dirige seu próprio banco de investimento
butique em São Paulo. Novas pontocoms brasileiras, como a Baby.com.br,
uma empresa de varejo online de produtos para bebês, foi aberta neste
ano por dois primos americanos, recém-formados em faculdades de
administração e negócios como Wharton e Harvard, às vezes dão ao Brasil
uma sensação não diferente daquela dos Estados Unidos em 1999.
Outros
estrangeiros arrumam empregos em empresas brasileiras que estão
prosperando com o boom parcialmente criado pelo comércio do Brasil com a
China.
“Nossos salários aqui no Brasil são pelo menos 50%
maiores do que os salários nos Estados Unidos para posições
estratégicas”, disse Jacques Sarfatti, gerente para o país da Russell
Reynolds, uma empresa de recrutamento de executivos.
Os
estrangeiros estão disputando vagas com os brasileiros que voltam do
exterior. “Está óbvio que o mercado de trabalho está muito ruim em
outros lugares”, disse Dara Chapman, uma californiana de 45 anos que é
sócia de um fundo hedge do Rio, o Polo Capital. Ela disse que recebe
muitos currículos de pessoas nos Estados Unidos com interesse em se
mudar.
As imensas descobertas pelo Brasil de petróleo em
águas profundas também atraíram investidores e estrangeiros, incluindo
milhares de filipinos que trabalham em navios e plataformas de petróleo
em alto-mar. Para suas outras indústrias, o Brasil precisa de
aproximadamente 60 mil novos engenheiros, parte deles precisando vir do
exterior, dado o atraso do sistema educacional do Brasil.
“Eu vim
de Pequim há um ano e encontrei um potencial incrível para
desenvolvimento profissional”, disse Cynthia Yuanxiu Zhang, 27 anos, uma
gerente chinesa de uma empresa de tecnologia. “Eu já estou planejando
prolongar minha estadia aqui esta década adentro.”
Original no NYT:
August 13, 2011
(NYT) WORLD / AMERICAS
By SIMON ROMERO
Brazil’s Boom Draws Americans Eager to Profit
The turnaround from the nation’s days as a major debtor nation has also attracted Brazilians back from abroad.
http://www.nytimes.com/2011/08/13/world/americas/13brazil.html?emc=tnt&tntemail0=y